Pesquisa inédita mostra desigualdade racial no mercado de tecnologia

Entre os 1427 entrevistados, 83% já sofreram discriminação no ambiente de trabalho

FONTECNN, por Amanda Alves
Getty Images

A pesquisa inédita Potências Negras Tec, realizada em outubro pela comunidade Potências Negras e Shopper Experience, aponta obstáculos enfrentados por pessoas negras no mercado de trabalho, especialmente no setor de tecnologia.

O estudo contou com a participação de 1427 pessoas, 69% pretas e 21% pardas. Entre elas, 83% afirmam que já sofreram discriminação no ambiente corporativo, sendo 39% por colegas de trabalho; 35% por profissionais de RH e 34% por chefes.

“A pesquisa é importante para abordar, com exclusividade, a realidade das pessoas negras que atuam ou desejam atuar na tecnologia. Hoje, as pesquisas disponíveis não mapeiam a realidade das pessoas negras nesse mercado que é dominado por pessoas brancas, em maioria homens héteros e cisgênero, sem deficiência e menores de 30 anos.” ressalta Sônia Lesse, sócia-diretora na Profissas – Escola da Diversidade.

De acordo com a BRASSCOM – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, o mercado de tecnologia no Brasil demandará 797 mil profissionais até 2025. Entretanto, no país apenas 53 mil pessoas são formadas por ano em cursos voltados para áreas tecnológicas. Ainda de acordo com a BRASSCOM, a demanda média anual de profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação é de 159 mil.

“Para discutirmos e ampliarmos o acesso de pessoas negras na tecnologia, os dados são fundamentais, pois possibilita entender o perfil, necessidades, desafios e, aí sim, criar caminhos e oportunidades para ampliar o acesso para desenvolvimento e mercado de trabalho.”, acrescenta Lesse.

A busca por um mercado mais inclusivo e menos exclusivo

A pesquisa Potências Negras Tec escancara outro dilema nos setores da tecnologia: 56% dos entrevistados disseram ocupar cargos operacionais ou cargos de assistentes/técnicos e 29% estão desempregados. Os dados também mostram que o número de pessoas negras com carteira de trabalho assinada caiu de 51% para 45% e o desemprego aumentou de 20% para 29%.

Para Ana Minuto, especialista em Diversidade e Inclusão, pluralidade é não ser único e os espaços corporativos precisam ser mais diversos. “Como eu digo sempre, diversidade e inclusão é prosperidade! Ambientes mais criativos, mais inovadores e um ambiente que, minimamente, reflita a demografia do país. Afinal, locais diversos e inclusivos são mais inovadores, mais criativos, com pessoas mais engajadas e que se sentem pertencentes ao ambiente. E como criar isso? Primeiro, é importante que a gente tenha consciência que nós não somos inclusivos.” analisa.

Outro dado importante é que 80% dos entrevistados acreditam que áreas da tecnologia podem impulsionar o crescimento profissional. Entretanto, a renda média de pessoas negras que atuam em alguma área da tecnologia corresponde a 66% da renda de pessoas brancas. As informações apontam que a ausência de diversidade é o terceiro maior desafio que as pessoas negras enfrentam para o seu ingresso no mercado.

Para Ana, que há mais de 15 anos atua na tecnologia, diversidade e inclusão precisam ser pautas diárias dentro e fora das organizações. “As empresas precisam realizar uma revisão da sua cultura, das suas políticas, das suas regras, principalmente das suas políticas de denúncia. Para que se consiga entender o que de fato está acontecendo dentro da empresa.” conclui.

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