Pichações nazistas são encontradas na UNESP, em Franca-SP

Em dois anos, UNESP registra 6 casos semelhantes em suas unidades

Texto e edição de imagem: Solon Neto / Fotos: Paulo Oliveira, do Alma Preta 

Esta semana, membros do Coletivo Negro Afrontar encontraram pichações de suásticas nazistas e frases atacando negros feitas em um dos banheiros do campus da UNESP, em Franca-SP.

As frases diziam “Fora pretos nogentos fedidos [sic]”, “Mestiço aceita sua história!!![sic]” e “Manda pro Zoológico”. Segundo membros do coletivo, um dos funcionários da limpeza já havia visto as pichações há alguns dias, porém só agora chegou ao conhecimento dos membros.
Os estudantes formalizaram uma denúncia na Polícia Militar, acompanhados pela vice diretora da unidade.

Para Elias Nascimento e Nathalia Galvão, do coletivo Afrontar, os casos coincidem e podem estar relacionados com acontecimentos recentes do campus. Ambos concorriam a uma vaga como representantes discentes no curso de Direito, a única chapa negra no pleito. Segundo eles, isso causou debates acalorados entre os alunos.

Outro caso que levanta dúvidas envolve a EJUR, Empresa Junior Jurídica da faculdade. A presidenta da empresa júnior, aluna da faculdade, pediu afastamento do cargo após ser acusada de injúria racial.

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Para Elias Nascimento, os casos têm relação. “Acredito que elas já vêm de um tempo. Tivemos pichações anteriores e sabemos que se trata de um racismo estrutural dentro da universidade pública, entretanto sou levado a acreditar que após meses sem pichações racistas no campus elas reaparecerem justamente no corredor de direito, em semana de eleição, tem relação com a organização política dos pretos do campus, a organização que levou a denúncia de injúria racial por parte da presidenta da EJUR e também devido a presença de uma candidatura negra para o conselho de curso”.

Os casos são recorrentes, e a postura dos estudantes negros no campus incomoda. É o que diz Nathalia Galvão, aluna de Direito na universidade e candidata à vaga de representação discente em seu conselho de curso. “O que vem mudando recentemente é a forma combativa que esses casos têm sido tratados pelos próprios estudantes que não toleram, de forma alguma, qualquer tipo de preconceito”.

Nathalia também critica a postura da universidade. Para ela, as medidas tomadas pela instituição são insuficientes. “[…] vemos um silenciamento por parte da Instituição. Não se faz mais do que a burocracia permite, é colocado a todo momento inúmeros empecilhos para que os culpados sejam descobertos e punidos”. Ela critica o fato de que a universidade apenas pinta as paredes onde há pichação e que as investigações para punir os culpados pouco anda. “No caso das pichações tudo é resolvido ainda de forma mais rápida, tinta e pincel, pronto, o caso foi mais uma vez escondido e é como se não existisse nenhum preconceito novamente”. A estudante acredita que o regimento é mal empregado, e que esses casos de pichação tem permanecido na impunidade. “Pedimos por no mínimo uma investigação minuciosa, queremos a punição dos culpados, queremos a efetividade do nosso regimento, que funciona para ameaçar inúmeras condutas e nessas horas se faz inutilizável. Pronunciamentos e notas oficiais de nada adiantam se no fim de tudo todos saem limpos de qualquer acusação”.

UNESP se torna foco de pichações racistas em banheiros

Diversas unidades já relataram o mesmo problema. Em 2015, ao menos dois casos semelhantes foram registrados e denunciados em julho e agosto, em Bauru-SP e Ourinhos-SP, respectivamente. Este ano, em abril, outra denúncia foi feita na unidade de São José do Rio Preto-SP, em Maio, na unidade de Rio Claro-SP, em outubro, em Bauru-SP e agora em Franca-SP.

O último caso relatado, em Bauru (http://www.almapreta.com/realidade/pichacao-nazista-negros-bauru), gerou protestos dos estudantes e uma denúncia à Ouvidoria da UNESP. As diretorias das faculdades de Bauru emitiram notas de repúdio ao ato para professores e funcionário. Denúncias do mesmo tipo foram realizadas através do NUPE, Núcleo Negro para Pesquisa e Extensão da UNESP, em relação ao caso de Franca.

O Coletivo Negro Afrontar reúne estudantes negras e negros para realizar ações de formação, debate e denúncia sobre a questão racial. Grupos semelhantes se reúnem em pelo menos 9 das 23 unidades da UNESP no estado de São Paulo. A maioria tem um histórico comum, e surgiram a partir de 2014.

O ano marca o início da política de cotas na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, a UNESP, que segue sendo a única das universidades estaduais de São Paulo a possuir um programa de ingresso por cotas raciais. Naquele ano, a UNESP reservou 15% de suas vagas para alunos de escola pública, dos quais 35% são reservadas para Pretos, Pardos e Indígenas. A medida é progressiva, e a meta é que a reserva total atinja 50% das vagas em 2018.
Uma das reclamações ouvidas na universidade é a falta de uma política institucional de combate ao racismo, mesmo diante da realidade brasileira e do sistema de reserva de vagas.

Pichações racistas, nazistas e homofóbicas vêm sendo denunciadas em diversas universidades e já surgiram na USP e no Mackenzie, em São Paulo-SP, por exemplo, como relatou a reportagem do Alma Preta, em 2015.

 

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