Plano de Aula – Um exercício sobre o texto “Racismo”, de Luiz Fernando Veríssimo

FONTELuis Fernando Veríssimo
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Plano de Aula – Um exercício sobre o texto “Racismo”, de Luiz Fernando Veríssimo. No texto Racismo de Luís Fernando Veríssimo o patrão nega, o tempo todo, a existência do racismo apesar de estar sendo racista. Faça uma relação entre a atitude do patrão e a ideia da democracia racial no Brasil. Reflita as estratégias do “silenciamento” brasileiro em relação à afirmação da existência do racismo no Brasil, através da construção do mito da democracia racial contextualizando historicamente seu surgimento.

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Resposta: Há várias afirmações do patrão que revelam-nos a sua condição racista, ao mesmo tempo em que quer fazer crer que em nada tem a ver com o racismo, vilipendia o seu interlocutor. Poderíamos citar diversas frases que “escancaram” essa verdade. O tipo de tratamento dispensado exemplifica muito bem o que ocorre em nossa sociedade. Diversas são as situações em que o “sujeito suspeito” de algo errado é sempre aquele identificado imediatamente aos estereótipos formalizados e atribuídos aos pobres, aos que “não têm estudo”, aos negros. Mas há sempre aquela situação em que o negro é valorizado, notadamente se é bem sucedido, se sabe fazer graça, e assim por diante. Sabemos que, à época do advento da República, já quiseram “apagar” as provas de que o Brasil viveu o escravismo e que legislações foram feitas para favorecer o “branqueamento” da população com a entrada e “nacionalização” de europeus.

O Racismo

 Escuta aqui, ó criolo…- O que foi?

– Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.

– E não existe?

– Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca… É, não adianta. Negro quando não faz na entrada…

– Mas aqui existe racismo.

– Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia… E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.

Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!

– Eu insisto, aqui tem racismo.

– Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?

– Não, mas…

– Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?

– Eu sei, mas…

– Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.

– É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.

– Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.

– Mas isso é racismo.

– Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.

– Sim, mas…

– Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.

– Pois é, mas…

– Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.

– Pois então. O …

– Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.

– Mas…

– E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.

– É, mas…

– E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.

– Sim, mas…

– E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

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