PM de SP: Segurança para brancos

PM de SP: Segurança para brancos

Por Douglas Belchior

Como eu leio esse cartaz sobre as “dicas de segurança” da Polícia Militar: uma mulher branca, bem vestida e indefesa prestes a ser atacada por um preto.

Teimo afirmar: o procedimento mais antigo, tradicional e permanente do Estado brasileiro é a prática do racismo ou o exercício cotidiano de tratar grupos étnicos de maneira diferenciada. Essa campanha infeliz promovida pela PM demonstra mais uma vez a prática do racismo institucional.

O conceito de racismo institucional identifica o racismo que se estabelece nas estruturas de organização das sociedades e das instituições, traduzindo os interesses, ações e e mecanismos de expulsão e a promoção de violência perpetrados pelos grupos racialmente dominantes.

Esse tipo de “gafe” demonstra mais uma vez o pensamento enraizado na sociedade: cuidado com os negros!

A seguir, um artigo do Geledes sobre a mesma questão:

O material de uma campanha de prevenção a roubos da Polícia Militar (PM) revoltou entidades que lutam pela igualdade racial em Ribeirão Preto, que irão acionar hoje o Ministério Público.

No cartaz, afixado no interior dos ônibus de algumas linhas do município, há uma mulher branca sendo observada por um personagem de cor negra, que a PM diz se tratar apenas de uma silhueta. As entidades, entretanto, discordam.

“Isso evidencia o racismo institucional da Polícia Militar e reforça símbolos do senso comum, associando o negro ao mal”, explica Silvia Helena Seixas, coordenadora estadual do Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras).

Ela diz que a imagem é prejudicial à autoestima das pessoas negras, em especial os jovens da periferia.

Hoje, a Conen vai procurar a PM, a Transerp e a Acirp (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), que custeou os panfletos, para que a propaganda seja “imediatamente” retirada e que as entidades se comprometam a realizar capacitação de políticas públicas afirmativas.

O Ministério Público será acionado para intermediar o diálogo. A Unegro (União de Negros pela Igualdade) também irá recorrer à promotoria. “É um conteúdo extremamente discriminatório, é assustador que a PM reforce esses estereótipos”, afirmou ao A Cidade Ana Almeida, vice-presidente estadual da entidade.

PM de SP: Segurança para brancos
PM de SP: Segurança para brancos

Repúdio

O cartaz também indignou o vereador André Luiz da Silva (PCdoB), presidente da Comissão Permanente de Direitos da Igualdade Racional da Câmara de Ribeirão Preto.

“Por que sempre o negro é negativo?”, questionou, ressaltando que o terceiro personagem do cartaz, uma policial, é branca – assim como a vítima.

O vereador reclama que realiza diálogo constante com a PM justamente para evitar esse tipo de situação.

“Essa manifestação de preconceito é involuntária, está incutida na cultura, e justamente por isso deve ser combatida”, diz.

Ele afirma que irá apresentar na sessão de hoje da Câmara uma moção de repúdio à campanha.

Exagero

Em nota, a PM informou que “lamenta a percepção equivocada e exagerada” do conteúdo da campanha.

“É notório que na arte do material sobre ‘Dicas de Segurança’ o ‘criminoso’ é representado pela caracterização de uma ‘silhueta’, por estar na penumbra, observando a sua vítima à espreita atrás de um poste, usando, para tanto, da sombra existente no local”, diz a nota.

O cartaz faz referência ao perigo de andar em ruas mal iluminadas. A Acirp diz que é parceira da PM na divulgação da campanha, mas explica que não foi a responsável pelo conteúdo do material. “Racismo, além de crime, é conduta abominada pela Acirp”, afirma a instituição.

 

 

Fonte: Negro Belchior

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