Cenas de Viver a Vida criam indignação em mulheres negras

Prezado Manoel Carlos. Como jornalista e escritora entendo os desafios p/ a construção de um personagem. Sobretudo, de uma protagonista que se pretende conquistar o público a partir das suas atitudes e posicionamentos diante da vida. Mas construir a primeira protagonista negra de uma novela das oito na TV Globo banhada pela culpa (qual culpa?), que se queda de joelhos diante de uma mulher branca, humilhada e criminalizada por tomar posse do seu corpo, culpada por não suportar uma menina mimada infernizando a vida, pedir perdão de joelhos e ser esbofeteada s/ nenhuma reação é realmente brincar c/ a sensibilidade do público e, em especial, das mulheres negras brasileiras. Quantas Helenas se ajoelhariam e pediriam perdão e apanhariam s/ reação em pleno século XXI? O diálogo foi empobrecido, apenas a Tereza teve argumentos “fortes” p/ se justificar diante do público. O personagem do José Mayer desapareceu do contexto e se recusou a conversar c/ a Helena no dia do retorno do hospital. E Helena, q no início da novela aparecia apoiada pela família, estava só, desamparada, frágil e outra vez aos prantos. Além de não corresponder à realidade das mulheres negras bem sucedidas, pois estas chegam ao topo da carreira por serem guerreiras, sábias e apoiadas por suas famílias, a cena de ontem simboliza a suposta aceitação da submissão da mulher negra. Hoje c/ os recursos q temos disponíveis não é mais tolerável uma representação tão aquém da nossa realidade. Sugiro que o senhor e suas colaboradoras saiam do universo do Leblon e venham conhecer um pouco mais o outro lado da história. Aprendam sobre a luta e sobre o protagonismo das mulheres negras, como valorizam suas famílias, como encaram relacionamentos como homens brancos ou negros e, como enfrentam os desafios do dia a dia sejam os de racismo, sejam os de garotinhas mimadas ou de megeras. O primeiro passo é uma boa pesquisa de campo. Axé.

Angélica Basthi

Fonte: Lista de Discriminação Racial –

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