A Polícia Civil concluiu na quinta-feira (26) o inquérito sobre o caso de supostas ofensas raciais proferidas contra o músico Maik Salgado em frente a um restaurante de Porto Alegre onde ele se apresentava. A delegada Andrea Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), indiciou o cliente do estabelecimento por racismo.
O episódio ocorreu no dia 29 de novembro. O suspeito, de 36 anos, que não teve a identidade revelada, nega as acusações. Segundo a polícia, durante o depoimento o homem alegou ter autismo e afirmou que reclamou apenas da qualidade sonora da apresentação.
“Segundo a vítima e testemunhas, o suspeito teria dito: ‘lugar de macaco é na jaula’. Como se uma pessoa negra não tivesse o direito de estar naquele restaurante, de exercer a profissão de músico. Então entendo que teve um caráter de subjugar uma raça em relação à outra”, explica a delegada.
Procurada pela reportagem do g1, a direção do restaurante disse que não vai se manifestar.
O inquérito foi enviado ao Ministério Público (MP), que decidirá se dá ou não sequência ao trâmite na Justiça. O indiciamento foi embasado a partir dos depoimentos de testemunhas e da análise de imagens das câmeras de monitoramento disponibilizadas.
Relembre o caso
O músico Maik Salgado se apresentou no local e diz que por volta de 22h30 estava na calçada, em frente ao restaurante, quando encontrou o suspeito. Ao identificar o cantor, o cliente teria começado os xingamentos.
“Esse rapaz começou a falar: ‘macaco calado é que faz sucesso, macaco tem que ficar na jaula’. E eu, acho que ele está falando comigo, mas fiquei na minha. Aí ele levantou, olhou pra minha cara, colocou o dedo na minha cara e falou assim: ‘tu é um merda, teu maior talento é ficar calado'”, relatou.
Segundo Maik, não houve nenhuma reação contrária durante o show. Ele conta que o homem não parecia bêbado, porque “as palavras eram muito claras”. Uma funcionária do restaurante teria dito que o cliente estava indo embora porque “estava com vontade de vomitar por causa do músico”.
À época, o cantor contou à reportagem que se apresentava no local havia cerca de sete meses e nunca tinha passado por situação parecida.
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