População agredida e discriminada pode auxiliar o Brasil a cumprir seu destino

Temos que respirar fundo e buscar ativamente pela mudança de posicionamento dos indecisos

FONTEPor Cida Bento, da Folha de S.Paulo
Retrato da psicóloga Cida Bento, que é diretora-executiva do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)

Muitas e muitos de nós que queremos um Brasil mais humanizado e democrático saímos à luta nas últimas semanas em busca de conversar com as pessoas próximas que ainda estão indecisas sobre em quem votar.

Ou ainda aquelas envergonhadas pela escolha que tendem a fazer, a despeito da rejeição a este ou àquele candidato. São esses indecisos ou envergonhados que poderão decidir que país teremos em 2023.

De qualquer forma, 2023 se anuncia como um ano de muitas dificuldades pela situação de polarização que foi fomentada pela crise econômica, política e social instalada no país.

Mas é mais esperançoso e alentador pensar que poderemos reconstruir o país nos inspirando em políticas públicas que já deram certo, como o programa Fome Zero, que tirou amplos segmentos populacionais da extrema pobreza, ou com políticas que visaram fortalecer o sistema único de saúde e assegurar condições mínimas como medicação básica gratuita para a população de baixa renda adoecida.

É animador também estar num país que pode voltar a investir em escolas de educação básica e em universidades públicas, como já fez há poucos anos, abrindo as portas para parcela da população que, através das ações afirmativas, pôde finalmente acessar o direito à educação superior.

Um Estado de bem-estar social pode ser novamente articulado e podemos convencer os indecisos, os que estão descrentes da política, os que dizem que “políticos são tudo a mesma coisa” de que temos que acreditar e apostar novamente.

Assim, pacientemente mostrar dados, mostrar tempos diferentes que pudemos viver quando nossas florestas não eram devastadas pelo fogo incessante e estimular as pessoas a sair de casa para votar.

Nada mais urgente que isso. O voto em branco, o voto nulo e também a abstenção de quem pretende mais efetividade de direitos fundamentais só fortalecem a continuidade do que já temos hoje e precisamos acreditar que podemos transformar a realidade.

E é alentador também constatar que a parcela mais pobre, negra, a parcela nordestina já se decidiu por um voto que possibilite a construção um tempo mais humanizado, sem medo de ser feliz.

Essa parcela não se deixou seduzir pela apologia ao uso indiscriminado de armas e pela violência como solução para os problemas sociais.

Assim, nós, que já estamos atentos aos perigosos flertes que parcela do nosso país vem tendo com o nazismo, o fascismo, temos que respirar fundo e buscar ativamente pela mudança de posicionamento dos indecisos e dos tendentes a não votar.

E nos sentir honrados pois justo aquela parcela da população frequentemente agredida, discriminada, não amparada pelas políticas públicas é a que pode auxiliar o Brasil a cumprir seu destino, a partir do investimento na riqueza ambiental e humana que possui.

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