População negra está muito mais vulnerável à violência, diz diretora do FBSP

Diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirmou que desigualdade social no Brasil também tem consequências no índice

FONTECNN, por Daniel Fernandes
Manifestantes protestam contra a morte de jovens negros por PMs em 2015. (Foto: TOMAZ SILVA / AGÊNCIA BRASIL)

A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Samira Bueno, afirmou nesta terça-feira (31), em entrevista à CNN, que a população negra está muito mais vulnerável à violência no Brasil.

De acordo com a especialista, o índice de mortalidade entre pessoas brancas e amarelas é de 11 pessoas em um grupo de 100 mil, enquanto entre pessoas negras o índice sobe para 29 pessoas em um grupo de 100 mil.

A população negra está muito mais vulnerável à violência, e não só a ela. Na verdade, nós temos um acúmulo histórico de mais de 300 anos de escravidão e da ausência de políticas públicas que relegaram a população negra a um lugar em que ela concentra uma série de indicadores dos piores, como índices de evasão escolar, piores indicadores de inserção formal no mercado de trabalho e as mulheres negras com o índice de salário mais baixo no mercado de trabalho”, afirmou Samira Bueno.

Samira afirmou, ainda, que a desigualdade social no Brasil também tem consequências no índice de violência, já que as mulheres sem autonomia financeira são as mais afetadas pelo índice de violência letal.

“As mulheres que mais sofrem especialmente com a violência letal são aquelas que não têm autonomia financeira, que dependem financeiramente do marido e continuam em uma relação porque precisam colocar comida na mesa. A violência por si só não pode ser vista como algo isolado. Ela tem que ser vista como algo maior, de um país profundamente desigual”, afirmou a especialista.

Atlas da Violência 2021

O Atlas da Violência 2021, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado nesta terça-feira, revela que a taxa de homicídios em todos os estados brasileiros apresentou queda, com exceção do Amazonas, que, entre 2018 e 2019, aumentou 1,6%. Já o número de mortes violentas por causas indeterminadas cresceu nos dois últimos anos.

De acordo com o estudo, o Brasil registrou um crescimento de 35,2% no número de mortes violentas por causas indeterminadas entre 2018 e 2019. Os maiores aumentos foram registrados no Rio de Janeiro (232%), no Acre (185%) e em Rondônia (178%).

No ano de 2018, o país registrou 57.956 homicídios. Já em 2019 este número ficou em 45.503, o que representa uma queda de 21,5%. De 2014 a 2019, a queda na taxa de homicídios é ainda maior: 24,8%.

O estudo deste ano foi baseado em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) a partir dos atestados de óbito – ambos sistemas são do Ministério da Saúde. Os dados mais recentes são de 2019.

O Atlas ressalta ainda que o aumento dos registros nas mortes violentas por causa indeterminada (MVCI), que são aquelas em que não foi possível identificar a motivação, saltou de 12.310 para 16.648.

Essas mortes, segundo o estudo, podem ter sido provocadas por agressões, suicídios, assassinatos ou acidentes, mas acabam entrando nas estatísticas como indefinidas e podem puxar os registros de homicídios para baixo. 

(*Com informações de Rafaela Lara e Murillo Ferrari, da CNN, em São Paulo)

-+=
Sair da versão mobile