Por que é fundamental investir na potência de mulheres negras?

FONTEPor Thalyta Martins, da Fundação Tide Setubal
Foto: Pexels / Anna Shvets

Ao considerarmos que a maioria da população brasileira é negra – 56,2%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) -, o maior grupo populacional do país é, ao considerar-se a interseção entre raça e gênero, composto por mulheres negras, o que corresponde a quase 60 milhões de pessoas.

Por outro lado, elas são as pessoas mais afetadas por crises como a gerada pela pandemia e contextos como esse denunciam a existência de condições socioeconômicas e psíquicas ainda deficientes, o que é potencializado pela falta de políticas públicas direcionadas. A PNAD Contínua mostrou também que, em 2020, o desemprego entre mulheres não negras foi de 13,5%, enquanto esse indicador chegou a 19,8% entre mulheres negras.

A atuação do investimento social privado tem um papel importante nesse contexto se olhar  para intersecção entre gênero, raça e território. Viviane Soranso, Coordenadora do Programa Raça e Gênero da Fundação Tide Setubal, ressalta que fundações, institutos, associações, empresas e governos têm o dever e a responsabilidade de tomar medidas para modificar essa realidade da forma mais urgente e estruturada possível. Soranso considera que é necessário haver mudanças de paradigmas culturais e que todas as pessoas façam a sua parte para incluir membros de grupos minorizados de direitos.

“A Fundação Tide Setubal entende que a participação e a ocupação de negros e mulheres em condições de igualdade em espaços de tomada de decisão promove não só justiça social e democrática, como também gera diversidade e sensibilidade no interior das organizações. Isso reduz estigmas, aumenta as conexões, facilita o estreitamento entre centro-periferia e tem como um objetivo estratégico ampliar a diversidade em espaços de decisão e poder, com ênfase na participação de homens e mulheres negros”, explica.

Dia de luta e comemoração

A demanda pelo acesso básico a direitos e a luta em prol da equidade de gêneros foram fatores determinantes para a criação do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data foi instituída em 1992, durante o Encontro de Mulheres Afrolatino Americanas e Afro Caribenhas, que ocorreu na República Dominicana. No Brasil, a data foi oficializada em 2014, por meio da Lei nº 12.987, que também determinou o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

De lá para cá, muitas foram as conquistas. Hoje, é possível ver mulheres negras na política institucional e muitos projetos de impacto social – como foi o Afro Chef, citado na parte 1 desta reportagem.

“Quando fortalecido, [o grupo de pessoas negras] exerce o direito à mobilidade social e, ao mesmo tempo, principalmente as mulheres negras, procuram exercer de fato o que chamamos de coletividade: nunca se levantam sozinhas e levam as suas redes. Isso nos lembra a famosa frase da Angela Davis”, afirma Soranso, ao mencionar a famosa frase “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

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