Por um futuro sem racismo

Educação antirracista não pode ser um privilégio para poucos

FONTEPor Priscilla Bacalhau, da Folha de S. Paulo
Alunos unem braços em torno de desenho de um punho negro cerrado em atividade do núcleo Querer em Emef Rubens Bento Alves, em Caixias do Sul (RS) (Foto: Carlos Macedo/ Folhapress)

“Você tem cor de sujeira”; “Não gostamos de você porque você é marrom”; “Neguinha do cabelo ruim”; “Fede a chorume”.

Essas são frases doídas para ler e escrever, mas são reais, divulgadas na mídia, ditas dentro de ambientes escolares, de um estudante para outro. Infelizmente, são apenas alguns exemplos de como o racismo está incrustado na sociedade brasileira e no dia a dia da escola, um dos principais espaços de socialização infantojuvenil.

Vivenciar essa situação desde tão jovem pode causar traumas, problemas de autoestima e pertencimento, além de exclusão e abandono escolar. Para estudantes que praticam atos de racismo, há efeitos corruptores de sua formação moral, que os levam a internalizar uma enganosa crença em uma hierarquia de raças e etnias.

Existe um caminho para que a escola não seja esse espaço reprodutor de desigualdades e encorajador de racismo: educação antirracista. Por meio dela, o racismo estrutural é trazido à pauta da sala de aula e da comunidade escolar, promovendo sensibilização e informação sobre o tema para extinguir opressão entre estudantes e em suas experiências de vida fora da escola. A educação antirracista é papel de todos na formação integral de estudantes. O assunto não deve ficar restrito aos dias 13 de maio e 20 de novembro.

Nas políticas educacionais, a prática antirracista deve estar no sistema de financiamento, na formação permanente de educadores, no regime de colaboração entre redes e na elaboração de indicadores para monitoramento e avaliação. No nível da escola, gestores e professores precisam liderar uma mobilização da comunidade escolar, incluindo as famílias, realizar diagnóstico de situações racistas e trabalhar com materiais sobre o tema de forma transversal e interdisciplinar.

Essas soluções não são novas. Movimentos negros e indígenas resistem e promovem soluções há séculos, muitas vezes invisibilizados pelo próprio racismo que buscam combater. Algumas das conquistas incluem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, a recente lei que equipara injúria racial ao crime de racismo, e os novos ministérios da Igualdade Racial e dos Povos Indígenas, que abrem caminho para a realização de ações transversais.

Educação antirracista não pode ser um privilégio para poucos. Se queremos um futuro sem racismo, precisamos agir desde hoje, por meio da educação e aprendendo com a luta dos movimentos sociais.

Ainda há muito o que conquistar. Nossa geração precisa lidar com os traumas que trazemos do racismo vivenciados desde a juventude. É papel de todos e todas não permitir que as próximas gerações passem pelo mesmo.

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