Porta dos Fundos: Um papo exclusivo com a roteirista Nathália Cruz

Em março, o canal vem disponibilizando esquetes escritas por mulheres no canal

Por Thamires Viana, Do CineClik

Nathália Cruz- mulher negra de cabelo cacheado, usando camiseta marrom- sorrindo
(Foto: Imagem retirada do site CineClik)

Neste mês das mulheres, o canal Porta dos Fundos vem disponibilizando todos os sábados esquetes roteirizadas apenas por mulheres que compõem a equipe. No último dia 14 entrou no ar o vídeo Cota, que defende o sistema de cotas e a importância de se falar sobre o papel de negros em produções artísticas e audiovisuais. Com ironia e muito humor, a esquete já conta com mais de 1,4 milhão de visualizações no Youtube.

A mente por trás do divertido roteiro é Nathália Cruz, atriz e roteirista que, com o vídeo, ingressou a sala fixa de roteiro do Porta dos Fundos e, além de escrever, também atua nas produções do canal.

Formada pelo O Tablado, no Rio de Janeiro, a roteirista traz em seu currículo trabalhos como Imagina na Broadway, vídeos do canal Ponto Cruz, o Stand Up – Desconexão e A Compadecida do Auto. Já como atriz, Nathália atuou em Futuro Ex e Maternidade (Porta dos Fundos), no filme O Comedy Club e na terceira temporada da série Homens, ao lado de Fábio Porchat.

Para saber mais novidades sobre os projetos de Nathália, batemos um papo exclusivo com ela. Confira:

1 – Como é fazer parte de um projeto tão especial como o Porta dos Fundos?

Nathália: Compor a sala de roteiro do Porta é, além de muito divertido, uma escola muito poderosa! Todo o processo de escrever é constantemente inspirado pelas trocas que acontecem com a equipe a todo momento e não só durante as reunião de roteiro. Temos trabalhado muito, mas rimos na mesma proporção! É muito gratificante trabalhar pela risada alheia!

2 – A esquete traz uma crítica social que parece ‘desenhar’ para quem ainda não entendeu o sistema de cotas. Você já tinha vontade de escrever sobre isso trazendo esse humor irônico e inteligente?

Nathália: Um dos meus focos é, sim, proporcionar um lugar digno para os negros e negras dentro do humor. O vídeo “COTA” foi meu passaporte para a sala fixa de roteiro do Porta. Apresentei-o no ano passado e depois disso, seguimos trocando sobre a possibilidade de integrar a equipe e acabou rolando. Nesse roteiro, mais do que defender o sistema de cotas, ironizo o costume de termos um único artista negro nas produções artísticas, audiovisuais. Quando a história não é sobre a questão racial, as chances de se ter dois negros contracenando, são mínimas. Em um país em que mais da metade da população se declara negra ou parda, o que assistimos nas produções de grande alcance é uma distorção absurda da realidade. Somos bem mais que um e iremos ocupar esses espaços.

3 – Como foi atuar a partir de um roteiro próprio?

Nathália: Foi bem especial. Quando propus o roteiro, pensei exatamente da forma como aconteceu. Escrevi a cena de uma cena em que eu encontrava Noemia no set e ficávamos igualmente desconfortáveis. Gravar com ela foi bem especial e emocionante. Admiro muito o trabalho a pessoa e o tamanho daquela deusona! O dia de gravação foi excelente! A equipe estava toda empenhada e numa energia muito parecida. O Rodrigo Van Der, diretor e o Antônio Tabet foram muito importantes para garantir o tom que eu pensei pro roteiro. Me ver realizando esse projeto me estimula a acreditar mais em tantos outros que eu tenho traçados. Realizar sonhos nos estimula a sonhar e conseguir sonhar em tempos tão difíceis é bem poderoso.

4 – Quais os próximos passos para levar uma discussão importante ao público?

Nathália: Seguir ouvindo e trocando, sempre. Não quero cair na armadilha de achar que represento “os negros” ou “a mulher negra no humor”. Somos muitos e é preciso lembrar disso sempre. Vou sempre buscar humor sob a perspectiva não-branca, mas sobretudo, quero incluir e naturalizar a presença da negritude na comicidade cotidiana.

5 – Como você descreveria o mercado de roteiristas, principalmente negros, atualmente no Brasil?

Nathália: Cheguei agora então não consigo descrever muito bem, ainda. Intuo que, como em todas as outras áreas, tenhamos que provar mais nossa capacidade para ter o mesmo lugar, prestígio e salário dos brancos. Porém, acredito muito mais na capacidade que temos de fazer isso para deixar menos difícil o caminho para os próximos e assim por diante.

6 – Quais desafios você ainda encontra sendo mulher no mercado do audiovisual?

Nathália: Como atriz e roteirista eu vejo, muitas vezes, a gente pensando ou sonhando mais baixo que os homens. Valorizo muito mesmo toda função dentro da nossa bolha do audiovisual, mas vejo muita mulher sensacional com dificuldade em acreditar que pode ocupar um espaço novo.

7 – Pode falar um pouquinho sobre seus projetos futuros?

Nathália: Quero seguir escrevendo e atuando. Estou vivendo, com muito afinco, o que era meu projeto do futuro, até ontem. Os novos projetos ainda estão muito verdinhos para serem expostos, assim, coitados. rs Deixa eu amadurecê-los que conto! Mas, “tem coisa boa vindo por aí, sim!”.

Assista o vídeo Cota:

-+=
Sair da versão mobile