Praça da Liberdade, em SP, tem nome alterado para Liberdade África-Japão

Justificativa é reparação histórica pela presença negra na região

FONTEPor Francisco Lima Neto, da Folha de S. Paulo
Estátua de Madrinha Eunice, precursora do samba em São Paulo, na praça rebatizada de praça da Liberdade África-Japão (Foto: Rubens Cavallari/Folhapress)

A praça da Liberdade, localizada entre a avenida Liberdade, a rua Galvão e a rua dos Estudantes, no centro de São Paulo, passa a se chamar praça da Liberdade África-Japão. O objetivo é resgatar e celebrar a memória negra na região.

A lei que instituiu a mudança foi sancionada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e publicada na edição desta quinta (1º) do Diário Oficial.

Na justificativa do projeto —apresentado em 2020 pelo então vereador Paulo Reis (PT) e pela vereadora Luana Alves (PSOL)— consta que, em julho de 2018, o espaço foi batizado de praça Japão-Liberdade em justa homenagem à imigração japonesa, mas que é injusto ignorar a presença do negro escravizado na cidade, cujas marcas foram cravadas no bairro que abrigou, por exemplo, local conhecido como Largo da Forca, exatamente onde está a praça.

No Largo da Forca, acrescenta o projeto, negros escravizados acusados de crimes eram mortos por enforcamento público, algo que durou até o século 19.

Praça da Liberdade África-Japão nesta quinta (1º) (Foto: Rubens Cavallari/Folhapress)

A Liberdade também abriga a Capela dos Aflitos, que vai ganhar novo restauro. A construção é o que sobrou do Cemitério dos Aflitos, a primeira necrópole pública da cidade de São Paulo, inaugurada em 1774 e desativada em 1858 com a inauguração do cemitério da Consolação.

O altar carece de pintura, e a escadaria que leva até o sino foi corroída por cupins. A porta onde devotos colocam bilhetinhos para agradecer a Chaguinhas, um santo negro popular, está desgastada pela infiltração que vem do teto. O forro tem marcas de mofo, e as paredes têm rachaduras, além de tinta descascada.

Chaguinhas, como era conhecido Francisco José das Chagas, foi um militar negro condenado à morte em 1821 por ter liderado um motim em Santos pelo pagamento de salários. No ano da Independência, foi levado ao Largo da Forca.

Segundo relatos registrados pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a corda que mataria Chaguinhas arrebentou duas vezes. O público que assistia à execução pediu clemência às autoridades, acreditando que a salvação seria obra divina.

O pedido foi negado e Chaguinhas morreu na terceira tentativa de enforcamento. Embora não tenha sido canonizado, o ex-militar é dito milagreiro e sua história tem se popularizado.

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