O racismo é um dos temas mais urgentes para a sociedade brasileira. Nesta semana, o professor do curso de jornalismo Juarez Xavier foi alvo na Unesp, campus de Bauru-SP. As frases “Unesp cheia de macacos fedidos”, “Juarez macaco” e “Negras fedem” foram escritas em um banheiro da universidade. O crime ganhou as redes sociais e destaque na mídia.
por Davi Rocha no Brasil Post
Esse é mais um alerta para a sociedade brasileira assumir o quanto é racista e precisa urgentemente pensar no assunto, conversar, esclarecer ideias. Nos últimos tempos, diversas demonstrações racistas têm espantado parte da sociedade e ganhado as páginas dos jornais e portais de notícias. O caso da jornalista Maju Coutinho, a estudante de Presidente Prudente, o jogador do Corinthains, o ator global preso, Glória Maria, o BBB 2015. Só para lembrar alguns. Porém, atos como esses acontecem todos os dias com milhões de brasileiros.
ATÉ QUANDO racistas vão ficar no anonimato e sem punição devida???
Não precisa ser antropólogo, sociólogo ou especialista em humanas para ter a mínima noção sobre o tema. Nem é necessário ser negro para se colocar no lugar do outro. Eu sou branco. Nunca sofri preconceito racial, mas não significa que não posso falar sobre o assunto, estudar, refletir, abrir este espaço de discussão.
Em texto publicado nesta terça-feira (28) no jornal Folha de S. Paulo o professor Juarez Xavier relata:
“Após a pichação, a gente decidiu realizar uma ação administrativa e pedagógica e outra legal. Na primeira, foi montada uma comissão para poder fazer uma apuração e um debate.
Do ponto de vista legal, o objetivo é fazer um boletim de ocorrência. Vai ser difícil descobrir o autor, mas queremos que ele compreenda que cometeu um crime e portanto vai passar por um processo de averiguação e punição.
Em Araraquara, quando aconteceu isso há dois anos, não se achou o responsável. Mas o que eu achei positivo: obrigou a universidade a fazer o debate.
No ano passado, aconteceu algo parecido em Harvard [Universidade Harvard, nos EUA]. E aí houve uma série de conflitos e fizeram uma campanha: “Eu também sou Harvard”. Nosso projeto é aproveitar esse momento para ampliar o debate”.
Estou com o professor Juarez e não abro: é preciso ampliar o debate. Mais do que nunca é hora de refletir, conhecer histórias, compartilhar ideias. Se quisermos eu, você e todo mundo viver em uma sociedade mais igualitária, temos de participar.
Espia o soco no âmago do clipe Boa Esperança, do Emicida:
Todas essas mulheres foram trabalharam como empregadas na vida real e sofreram humilhações como se fossem verdadeiras escravas em casas de família. É impossível não se revoltar pensando que ninguém precisa sofrer essa desumanidade por nada, muito menos pela cor de pele. Lançado nesta quinta, um minidoc com os bastidores do clipe apresenta o processo de desenvolvimento e a escolha dos personagens.
O rapper americano Kendrick Lamar trata de racismo e preconceitos no seu mais recente disco To Pimp A Butterfly. O clipe da música Alright mostra como a polícia trata os jovens negros nos EUA. É pesado, e infelizmente, parte do cotidiano. Qualquer semelhança com os negros mortos brutalmente por lá não é mera coincidência.
Em 1986, policiais entraram em um baile black de Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, gritando pra todo mundo que só queria dançar um pouco e curtir a vida “branco sai, preto fica”. Os negros no salão foram surpreendidos com tiros e linchamento. O filme de nome Branco Sai, Preto Fica conta essa história por meio de três sobreviventes. Quando tiver oportunidade assista ao filme e pense se alguém merece ter sua vida transformada com tamanha brutalidade por causa da cor de pele.
Publicado na Netflix em julho, What Happening, Nina Simone?, retrata a carreira e dura realidade de uma das grandes vozes da música mundial. Sem medo de botar o dedo na ferida, mostra o envolvimento da cantora com o movimento negro americano e o impacto em sua vida pessoal. É daqueles filmes para enxergar o mundo de outro jeito, um documentário obrigatório.
Filmes gringos também podem abrir a mente sobre o assunto. Não perca Selma, Preciosa, Django Livre, Invictus, A Cor Púrpura, Amistad, Mississipi em Chamas, Duelo de Titãs, 12 Anos de Escravidão, Faça a Coisa Certa, Malcom X, A Hora do Show, entre tantos outros.
Da palestra da desginer Diane Lima, no TEDxSãoPaulo, eu grifei: “se a menina quer deixar o cabelo solto, deixa o cabelo da menina no mundo”.
Bons textos também abrem a mente. As revistas Trip e Tpm dedicaram edições históricas e corajosas ao racismo:
É um dos retratos mais fieis da sociedade racista brasileira. Os textos foram publicados em abril de 2014, porém poderiam ser lançados na próxima semana, tamanha atualidade.
O conteúdo das revistas está todo disponível na web. Destaco os fortes depoimentos de Kendy Neris, Claudia Lima, Mario Mendes, Astrid, Dona Jacira (mãe de Emicida), Ellen Oleria, Juliana Alves, KL Jay e do jogador Tinga, que reproduzo um trecho abaixo:
“Acredito que o racismo nos estádios de futebol também é um reflexo da educação. Algumas pessoas, quando vão para o estádio, acham que tudo o que elas falam lá fica por lá. Essas pessoas às vezes estão com seus filhos, e ainda assim estão xingando a gente. Estão ensinando isso aos filhos. Quando você é bem-educado, não existe essa divisão entre o que acontece dentro e fora do estádio. Por falta de educação, as pessoas acham que não acontece nada, mesmo no esporte. Já vi pessoas de classe alta agirem assim.
Como disse logo depois daquela partida, trocaria todos os meus títulos pela igualdade, em todas as áreas”.
Repetindo o texto do professor Juarez Xavier para ficar o mais claro possível, é importante “aproveitar esse momento para ampliar o debate”. Principalmente nas redes sociais, as pessoas acreditam poder falar aos quatro ventos suas opiniões mais racistas e desumanas possíveis. São 85,6 milhões de brasileiros na internet e expostos a demonstrações de preconceitos diários em todas as timelines.
Clichês como os retratados acima no Quadrinhos Ácidos estão arraigados na criação e formação das pessoas, mas podem mudar.
Apesar de tudo, é preciso ter fé na humanidade. Arte, cultura e todo o conhecimento disponível em nosso tempo podem (e muito) nos ajudar a viver em uma sociedade menos cruel e mais igualitária. Converse, leia, ouça músicas, veja filmes. Olhe ao redor.
De onde vem as referências deste post há muito mais. Se quiser participar da conversa, deixe suas sugestões nos comentários, por favor.