O presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, relacionou hoje as mortes recentes de cidadãos negros às mãos da polícia com as raízes de “séculos de racismo” nos Estados Unidos da América (EUA).
“O problema é sistémico e devemos falar francamente sobre as dinâmicas raciais da nossa história. A nossa polícia protege-nos, mas há décadas que assistimos a problemas. Há uma história de séculos de racismo por trás desta realidade”, afirmou o responsável à cadeia televisiva ABC.
“Nós podemos ultrapassar esta situação e, em Nova Iorque, uma nova formação que vai ser dada a todos os polícias vai fazer a diferença”, sublinhou.
O `mayor` de Nova Iorque, que é branco e cuja mulher e filhos são negros, tem sido criticado por um sindicato da polícia de Nova Iorque por ter revelado publicamente que tinha educado o seu filho Dante acerca do “perigo potencial” na sua interação com a polícia.
“É diferente com uma criança branca, esta é a realidade deste país”, justificou hoje Blasio.
E acrescentou: “Desde muito cedo que dissemos ao nosso filho Dante para, quando for chamado por um polícia, fazer tudo o que ele lhe pede, não fazer movimentos bruscos e não tentar ir buscar o seu telemóvel [ao bolso das calças]. Sabemos que, infelizmente, esses gestos são mais propensos a ser mal interpretados se forem feitos por um jovem negro”.
Bill de Blasio realçou que não se pode ignorar “o facto de que há um problema quando existem incidentes no Missouri, Cleveland, Ohio e Nova Iorque no espaço de poucas semanas”.
Estas declarações do `mayor` de Nova Iorque surgem num momento conturbado nos EUA, onde têm decorrido protestos de grande dimensão devido às questões relacionadas com o racismo e a relação das autoridades policiais com os cidadãos de etnia africana.
Milhares de pessoas manifestaram-se nas principais cidades dos Estados Unidos no sábado, na quarta noite de protestos consecutivos contra a brutalidade da polícia após várias mortes de cidadãos negros.
Os mais recentes protestos decorreram em algumas das principais artérias de Nova Iorque, depois de a justiça daquela cidade ter anunciado a convocação de um `grand jury` (jurados) que vai decidir se o polícia branco que matou Akai Gurley, um negro de 28 anos, “por acidente” em Brooklyn, no dia 20 de novembro, deve ser levado a julgamento ou não.
Este é em um dos casos recentes que reavivou a desconfiança sentida por muitos negros norte-americanos em relação à atuação da polícia.
Em duas situações anteriores, em Ferguson (estado do Missouri) e Nova Iorque, os `grand jury` decidiram não enviar os polícias para tribunal.
Depois de uma cerimónia de homenagem ao jovem Akai Gurley, na tarde de sexta-feira, centenas de pessoas voltaram a manifestar-se nas ruas de Nova Iorque sob chuva.
Na noite anterior, mais de 200 pessoas foram detidas em Nova Iorque, a maior parte por distúrbios à ordem pública depois de terem cortado o trânsito, segundo a AFP.
Protestos similares foram registados na sexta-feira um pouco por todo o país, incluindo em Miami, Chicago, Boston, Nova Orleães e Washington DC.
Esta foi a primeira vez que manifestantes saíram à rua em Miami para pedir justiça, com os populares a bloquearem o trânsito. Já em Washington DC, capital dos Estados Unidos, cidadãos deitaram-se na estrada simulando as suas mortes.
Apesar dos protestos, o `mayor` de Nova Iorque, Bill de Blasio, disse que as queixas gerais contra a má conduta da polícia diminuíram 26% entre julho e novembro e que as alegações de força excessiva baixaram 29%.