Prêmio para literatura africana escrita em suaíli

Prêmio para literatura africana escrita em suaíli

Já comentei várias vezes os problemas da tradução e difusão internacional da literatura brasileira, escrita em português. Nosso idioma, apesar de ter cerca de 220 milhões de falantes é, na verdade, insular. Oitenta por cento dos que falam português são brasileiros, depois os portugueses e, nos países africanos, apenas uma elite fala o idioma. O grosso da população desses países ainda fala línguas e dialetos locais.

Imaginem agora um idioma africano, falado em vários países do continente, mas com uma literatura escrita nova e pouco difundida fora da zona linguística. É osuaíli, também conhecido como suaíli ou kiswahili, falado em vários países do leste da África, entre os quais o Quênia, Tanzânia e Uganda.

É uma língua franca, que serve de meio de comunicação entre vários dialetos da família Banto. Todos esses países foram vítimas da colonização inglesa, e esse idioma ainda é o dominante nos negócios e entre as elites desses países.

Mas a literatura existe em suaíli, sim. E a notícia foi a instituição recente de um prêmio que reconhece a excelência do produzido nesse idioma, e encoraja a tradução dessas obras para outros idiomas. O prêmio foi instituído por uma associação entre a Universidade de Cornell, nos EUA, e a Mabati Rolling Mills, uma laminadora que tem fábricas nos três principais países onde se fala o suaíli.

Mas deixemos que o artigo escrito por Dennis Abrams e publicado na Publishing Perspectives conte tudo.

 

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O PRÊMIO MABATI-CORNELL PARA LITERATURA AFRICANA
Por Dennis Abrams

Com a explosão continuada do interesse na literatura africanas (ou literaturas, para ser mais preciso), é excitante observar que foi anunciado em novembro, no Aké Art & Books Festival, que acontece em Abeokuta, na Nigéria, o Mabati-Cornell Kishwahili Prize for African Literature. O prêmio reconhece a excelência de obras em línguas africanas e encoraja a tradução de, entre e para as línguas africanas.

O renomado autor (e perene candidato ao Nobel), Ngugi Wa Thiongo, membro do júri, disse que o prêmio Mabati-Cornell “é uma grande intervenção na luta para que se escreva nas línguas africanas, para o lugar e a visibilidade delas ao sol global da imaginação literária. Os prêmios geralmente têm sido usados para afogar a literatura africana nas várias línguas africanas na enchente eurofônica. Com o prêmio Mabati-Cornell os sonhos de Diop, A. C. Jordan, Obi Wali e outros se tornam bem vivo. Espero que esse prêmio se transforme em um convite para que outras línguas africanas façam a mesma coisa e muito mais”.

Mais de 140 milhões de pessoas falam o suaíli no leste e no sul da África. O suaíli é também é um dos idiomas oficiais no Quênia e na Tanzânia. O prêmio será outorgado ao melhor manuscrito inédito ou livros em suaíli publicados até dois anos antes do ano do prêmio, nas categorias de ficção, poesia e memória, e romances gráficos. Os ganhadores dos primeiros lugares ganharão US $ 5.000 nas categorias de prosa e poesia, e o segundo lugar, em qualquer gênero recebe US$ 3.000, e o terceiro lugar, US$ 2.000.

O livro ganhador em prosa será publicado em suaíli pela East African Educational Publishers (EAEP) e o melhor livro de poesia será traduzido e publicado pelo Africa Poetry Book Fund. A cerimônia de premiação será feita tanto na Universidade de Cornell como no Quênia e na Tanzânia. Os quatro ganhadores passarão uma semana como residentes em Cornell e mais uma semana em outra instituição parceira.

Mukoma Wa Ngugi, professor em Cornell, e co-fundador do prêmio, disse que este reconhece que todos os idiomas são criados de modo igual e nenhuma língua deve prosperar às expensas de outras. “Mas, para além desse reconhecimento, o Prêmio estabelece um precedente histórico na filantropia africana feita por africanos e mostra que a filantropia africana pode e deve estar no centro da produção cultural africana”.

Sarit Sha, diretora do patrocinador do prêmio, a Mabati Rolling Mills, do Quênia, disse que “apoiar a literatura e a alfabetização é crucial para o desenvolvimento de uma cultura florescente, e a Mabati Rolling Mills tem orgulho de proporcionar o suporte financeiro para a fundação de uma nova iniciativa na editoração em línguas africanas. O novo prêmio para a literatura em suaíli procura recompensar os escritores, artistas e pensadores do leste da África que, através de suas obras, encorajam a alfabetização e a leitura em todos os níveis das sociedades leste-africana. Acreditamos que é vital religar o mundo das ideias com o mundo prático dos negócios e do comércio”.

A crítica literária Lizzy Attree, que é cofundadora do prêmio com Wa Ngugi, assinalou que, apesar de existiram prêmios internacionais para os escritores africanos, como o Caine Prize e o recentemente estabelecido Etisalat Prize, não havia nenhum grande prêmio internacional ou pan-africano outorgado para obras produzidas em línguas africanas. “O Mabati-Cornell Kiswahili Prize proporciona uma importante contribuição para o corpo da literatura mundial. O estabelecimento desse novo prêmio literário estabelece um precedente a ser seguido por outras literaturas em idiomas africanos”.

Laurie Damiani, Diretoria de Iniciativas Literárias no escritório do Vice-Reitor para Assuntos Internacionais de Cornell disse que estão felizes em co-patrocinar essa nova e animadora iniciativa, como parte do engajamento de Cornell para uma sociedade global diversificada. “É uma honra fazer parte de um esforço que promove tradições literárias vibrantes e encoraja uma interação significativa entre os povos do leste da África”, disse ela.

O prêmio é basicamente financiado pela Mabati Rolling Mills do Quênia (subsidiária do grupo Safal), pelo escritório do Vice-Reitor de Assuntos Internacionais de Cornell, e pelo Africana Studies Center, também de Cornell.

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Legal, não acham? E não acham também que faltam prêmios para literatura produzida nos idiomas dos nossos índios? Daniel Munduruku, vai a bola é sua….

 

Fonte: O Xis do Problema

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