Preticess: Da Mata, a maquiadora ‘Afrocruela’ que está ganhando o Brasil

FONTEPor Midiã Noelle, do Correio24Horas
Daniela Mata (Foto: Marcos de Paula / Agência O Globo)

Quando cheguei para entrevistar a Daniele Da Mata no hotel em que ela estava hospedada, eu achei muita graça. Olhei aquela pessoa e pensei: nossa, como ela é pequenina e delicada e, ao mesmo tempo, uma pessoa tão gigante e forte. Sim, minha gente! A maquiadora criadora do Projeto Negras do Brasil é grandiosa! Em beleza, discurso, educação e conhecimento. Foram 30 minutos de papo para descobrir que a queridinha de Liniker, há pouquíssimo tempo (seis anos atrás), era como as jovens que hoje são suas fãs e a segue nas mídias sociais. Uma garota negra, sonhadora, que não se sentia bonita, mas “um belo dia resolveu mudar”.

Com 26 anos, Da Mata trabalha desde os 15. Ou seja, mais de dez anos no corre. “Comecei em uma fábrica de cosméticos, quando eu era estagiária. Fazia a produção mesmo. Eu era muito nova e era um processo muito novo e muito trabalhoso. No final eu fui líder de produção de blush e trabalhei no setor de qualidade”. Lá, a bela conheceu um senhor chamado Levi – infelizmente já não está mais entre nós –  a pessoa que a ensinou tudo sobre produção de maquiagem. “Era como um pai. Me ensinou muita coisa. Ele era mais preto que eu. Comecei a ter contato com ele porque observamos que a produção era toda feita por gente branca e só tínhamos nós de negros”.

Na adolescência até os seus 20 anos, Da Mata nunca se preocupou com maquiagem, apenas com o ballet que fazia a pedido da mãe e o basquete, seu esporte favorito. Quando acabou o estágio, ficou sem saber o que fazer. Ao perguntarem o que sabia e gostaria de trabalhar, não dava outra: maquiagem. Mas como não queria estudar química para poder criar os cosméticos, optou fazer um curso de maquiadora. Nesse meio tempo ocorreu a sua transição capilar, quando se viu mulher negra pela primeira vez. “A vida toda você é preta né miga, mas a sociedade não fala isso para você.  Ficavam perguntando porque eu não botava aplique liso”. E foi nesse momento que ela se descobriu, mesmo tendo uma mãe empoderada, “lacradora real”, como diz.

Afrocruela
Após a sugestão de um amigo, o Bruno, Da Mata entendeu que precisava de uma imagem que impactasse as pessoas e que todas pudessem reconhecê-la. Surgiu então o estilo “afrocruela”. Mas o que a sua imagem tem de empoderamento e belo, tem de afrontadora e incomoda pessoas preconceituosas. “Depois que coloquei o cabelo comecei a ser mais atacada, mais discriminada. Odeio ir em shopping, em supermercado. São lugares que estou exposta. Vem de tudo. Já falaram que eu era obra do demônio. Foi horrível! Ninguém é obrigado a gostar, mas é obrigado a respeitar”. E por isso, Da Mata, para você, nosso máximo respeito.

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