Primeira livraria especializada em autoras negras ganha loja física em São Paulo

Inauguração será no próximo dia 09 de dezembro, com lançamento do romance Bará, da autora Miriam Alves

Por  , do Margens 

No próximo dia 09 de dezembro a bibliotecária Ketty Valencio, de 34 anos, inaugura a loja física da Livraria Africanidades, criada para ampliar o acesso à literatura feita por mulheres negras. A sede batizada de Lá do Mato foi criada com o objetivo de ser um espaço colaborativo para mulheres empreendedoras.

Durante a inauguração haverá um cortejo de abertura com o grupo de coco Semente de Crioula, bate-papo seguido de performance e sarau, além do lançamento do romance Bará – na trilha do vento, da escritora Miriam Alves, oficina de banho de ervas, bate-papo com a consultora Fabiana Bertagnolli Piasentin. O espaço contemplará também uma feirinha com expositoras convidadas, como Eparrei, Heróicas, Nene Surreal, Ana Requião, Ami Ateliê, Belo Câmi, flash tatoo e outras.

O novo espaço – inédito até então no país – conta com um acervo de 200 títulos diferentes e a decoração traz trabalhos das grafiteiras Gabi Bruce, Nene Surreal e Linoca, que seguiram a temática de livraria.

“Nossa intenção é a celebração, já que criar um espaço de acolhimento e fortalecimento é uma forma de resistir. A maioria dos espaços que sempre estamos é de dominação masculina, de controle e queremos o oposto, ou seja, o espaço trará segurança para que possamos realizar atividades juntas, favorecendo a autonomia e o protagonismo”,destacou Ketty Valêncio.

Formada em biblioteconomia, Ketty é também pesquisadora, pós-graduada em gênero e diversidade sexual na Unifesp e MBA-Bens Culturais: Cultura, Gestão e Economia na FGV faz curso de especialistas de Cultura, educação e relações étnico-raciais na USP e após sete anos trabalhando em bibliotecas, investiu no próprio negócio e conta com um viés inédito: o protagonismo das mulheres negras na literatura mundial.  Um breve passeio pelo site e é possível encontrar livros de autoras como Alice Walker, Angela Davis, Jarid Arraes, Maria Firmino, Noémia de Sousa, entre outras.

De acordo com ela, a inauguração da livraria em um espaço físico é também uma forma de fazer política. “É algo inconsciente e pensando na minha trajetória de vida, lembro que eu só queria vender uns livros escritor por autores e autoras negras. Parece simples e ao mesmo tempo é algo que as pessoas acham revolucionário. Estou reivindicando a minha representatividade e isso parece ser uma coisa tão transgressora, ainda que não devesse ser”, enfatizou.

Além da livraria física, Ketty possui também um site, com o acervo da livraria, que permite a compra virtual e também o pagamento parcelado e traz títulos que dificilmente são encontrados nos grandes magazines ou livrarias online, fazendo, mais uma vez um recorte que preza pela inclusão de autores independentes, pouco conhecidos e/ou acessados.

A livraria possui estantes como feminismo, ficção, não ficção, poesia, religião, nacionais, ciências sociais, entre outras, mas tudo voltado à cultura negra. Além do site, Ketty também percorre eventos e festivais literários, evidenciando o formato que se propõe a ser acessível e viável.

“Algo que eu acredito é que quando uma mulher avança, todas avançam. Não adianta eu avançar sozinha e não trazer comigo outras mulheres, até porque, dentro de mim habitam várias mulheres, algumas que fazem parte da minha família, do meu sangue e outras que passaram por mim, algumas que eu não conheci, mas que estão comigo e para onde eu for, vou levá-las. Quero escrever uma nova história, as próximas gerações que virão e as que estão aqui tem que ser diferente, tem que ter condições de vida plena e se eu e outras mulheres conseguirmos ajudar, meu sonho vai ser desenvolvido. Espero que consigamos”, pontuou.

 

Sobre a empreendedora
Ketty Valêncio é de família negra, vive na zona Norte de São Paulo, é formada em biblioteconomia, pós-graduada, foi membro do Coletivo de Mulheres Matilde Magrassi de Guarulhos, realiza um cineclube feminista e uma roda de conversa também em Guarulhos. Em 2014, foi uma das editoras da revista Mulheres de Palavra, com a participação de várias protagonistas do movimento hip-hop.

Lá do Mato
A Lá do Mato Saboaria Natural nasceu do desejo da Eloisa Noguchi de fazer esse mundo um lugar mais generoso e gentil. Depois de pensar muito sobre como conseguir fazer isso, ela resolveu fazer sabonetes naturais, artesanais e veganos, porque uma simples e pequena atitude tem o poder de mudar muita coisa. Nesse mês a marca Lá do Mato completa 2 anos e irá comemorar com a inauguração do espaço físico.

 

Serviço
Inauguração espaço Lá do Mato + Livraria Africanidades
Quando: 
09 de dezembro das 14h às 20h
Endereço: Rua Aimberê, 1.158, Perdizes – São Paulo, SP
Informaçõeshttp://www.livrariafricanidades.com.br/

+ sobre o tema

para lembrar

“Quero interpretar mulheres de todos os setores e não apenas africanas”

Quero interpretar mulheres de todos os setores e não...

Nega maluca: black face é racismo!

O país do Carnaval é o país da brincadeira....

Ninguém diz a Angélique Kidjo quem ela deve ser

GONÇALO FROTA É a última grande diva da música africana...
spot_imgspot_img

Poesia: Ela gritou Mu-lamb-boooo!

Eita pombagira que riscaseu ponto no chãoJoga o corpo da meninade joelho num surrão. Grita ao vento seu nomeComo se quisesse dizerQue mulher tem que...

A mulher negra no mercado de trabalho

O universo do trabalho vem sofrendo significativas mudanças no que tange a sua organização, estrutura produtiva e relações hierárquicas. Essa transição está sob forte...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....
-+=