Primeira professora negra no ITA, Sonia Guimarães recebe medalha Santos Dumont: ‘Reconhecimento fantástico’

Além de primeira mulher a lecionar no ITA, Sonia carrega o marco de ser a primeira doutora em física do país.

FONTEDo G1
Primeira professora negra no ITA, Sonia Guimarães recebe medalha Santos Dumont: ‘Reconhecimento fantástico’. (Foto: Dalila Dalprat / Divulgação)

Sonia Guimarães, a primeira doutora em física no Brasil e primeira mulher negra professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos, foi homenageada na manhã desta sexta-feira (19) com a medalha Santos Dumont, de honra ao mérito.

Em entrevista ao g1, Sonia não escondeu a felicidade de receber o prêmio e relembrou com orgulho a jornada de mais de 30 anos no ITA.

“Uma alegria imensa. Estou muito feliz porque sei que mereço. São 30 anos de contribuição, é um tempo enorme, uma vida inteira. Nesse período passei por poucas e boas, tentaram me calar, mas eu não me calei e estou aqui. Eu mereço, então agradeci muito, comemorei muito. Um reconhecimento fantástico. Foi muito legal ver tanta gente me parabenizando, inclusive algumas que eu nem conheço”, contou empolgada.

Primeira professora negra no ITA, Sonia Guimarães recebe medalha Santos Dumont: ‘Reconhecimento fantástico’. (Foto: Dalila Dalprat/Divulgação)

Referência brasileira na área, Guimarães tem a docência marcada pela alegria em lecionar, as roupas coloridas e a risada alta que contrastam com os corredores silenciosos e opacos dos laboratórios, mas principalmente pelo ativismo em impulsionar o protagonismo feminino na área de exatas.

Sonia recebeu a medalha ao lado da mãe e amigos que estiverem presentes na cerimônia especial e vibraram com a conquista.

Sonia recebeu a medalha ao lado da mãe. (Foto: Dalila Dalprat / Divulgação)

As medalhas Santos Dumont são entregues somente para personalidades que tenham prestado serviços de destaque à Aeronáutica ou por suas qualidades e valores à Aeronáutica.

“É um prêmio dado às mulheres que completam 30 anos no ITA. Aos homens com cargo civil, a premiação é entregue após 35 anos. Com os militares funciona diferente, mas é um reconhecimento pelos serviços prestados. Hoje, eu, mais uma mulher e um homem recebemos essa medalha”, explicou.

Para Sonia, essa conquista é plural e partilhada com outras mulheres. A professora enxerga nesse reconhecimento mais uma forma de ampliar sua visibilidade e mostrar a importância e o trabalho das mulheres nas ciências exatas e no ITA, uma das instituições militares mais tradicionais do país.

“Acho que o mais importante, além de valorizar o meu trabalho, é dar visibilidade às mulheres nesse meio e inspirar que cada vez mais mulheres sigam esse caminho. Meninas, venham. Acreditem. A mulherada vai tomar conta. Já está aumentando o número de professoras, alunas, de altíssima qualidade, super capazes, e a ideia é que continue aumentando. Então espero que esse reconhecimento possa servir de motivação para elas continuarem tentando ingressar no ITA e nesse meio”, disse animada.

Medalha Santos Dumont foi entregue para a Sonia Guimarães. (Foto: Dalila Dalprat / Divulgação)

Carreira

Sonia Guimarães foi a primeira mulher negra professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos. Ela entrou para a sala de aula do ITA quando as mulheres ainda não eram aceitas no vestibular do ITA.

Professora de física há 30 anos no ITA, ela também é pesquisadora na área – onde a presença feminina é ainda menor.

Sonia Guimarães foi a primeira mulher negra professora no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos (Foto: Simone Gonçalves/ G1)

Sonia decidiu pela Física em 1976, quando saiu da escola pública para a concorrida Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A sala era composta por 50 alunos, onde apenas cinco eram mulheres. Ela deixou a casa dos pais, tapeceiro e comerciante, para estudar fora aos 19 anos.

Escolheu a carreira acadêmica e partiu da graduação para o mestrado e doutorado – o último feito na Inglaterra. E, como se isso já não fosse grande para a menina que deixou a casa dos pais, entrou para o ITA em 1993 como um marco.

Era a primeira negra da instituição, que tinha um número pequeno de docentes mulheres. Sonia conta que sempre defendeu a presença feminina nas exatas e que era um contraste ser professora no ITA, que passou a aceitar mulheres como alunas apenas três anos após sua entrada.

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