Professor de AL que fez atividade sobre identidade de gênero é ameaçado

Trabalho desenvolvido pelo educador foi tema de pronunciamento na ALE; ele já denunciou ameaças na polícia

Por  Niviane Rodrigues, do Gazeta Web

Professor Daniel Macedo tem sofrido ameaças após atividade em escola. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O professor Daniel Melo Macedo, da Escola Estadual Lucilo José Ribeiro, em São José da Tapera, no Sertão de Alagoas, registrou um boletim de ocorrência junto à polícia para denunciar que vem sendo ameaçado após realizar uma atividade sobre identidade de gênero na unidade escolar. O assunto foi noticiado em primeira mão pela Gazetaweb (leia aqui).

O assunto virou polêmica e foi levado, inclusive, à tribuna da Assembleia Legislativa do Estado (ALE) pelo deputado Bruno Toledo (Pros), que evocou o poder de polícia contra o projeto de identidade de gênero desenvolvido pelo educador, citando a matéria feita pela Gazetaweb durante sessão da ALE.

Desde que o assunto foi à tona, o professor está com medo e teme pela própria vida. Ele diz que já vinha sofrendo ameaças em suas redes sociais e que a fala do parlamentar incita ainda mais o ódio do qual vem sendo vítima desde que foi escolhido pela direção da unidade escolar para ministrar a disciplina Projeto Integrador, que teve como um dos pontos de discussão a identidade de gênero. A temática foi concebida por escolha dos próprios alunos e com a aprovação da comunidade escolar, dos pais,  do Conselho de Ensino e da Secretaria de Estado da Educação.

Após pronunciamento do parlamentar na Assembleia, o professor falou com a Gazeta e chamou a fala do deputado de “um discurso de intolerância e de ódio”. “Em momento algum, tanto eu quanto a escola, sabíamos que no Plano Estadual de Educação nós não poderíamos trabalhar a questão de gênero”, afirma.

“Um discurso como o do deputado, uma liderança parlamentar, aumenta ainda mais as agressões que venho sofrendo. Estão me colocando como um criminoso. Eu sou educador e como educador acredito que a democracia é agredida. Sinto-me agredido na minha dignidade pessoal e profissional. A fala do deputado é uma afronta à Declaração Universal dos Direitos Humanos, à liberdade de expressão, à democracia e à dignidade daqueles alunos que precisaram do meu socorro”, disse.

Daniel Macedo fala sobre os problemas enfrentados pelos alunos em relação à orientação sexual e destaca a importância de discutir o assunto na escola. “Como ia ser se a gente não fizesse esse projeto e mais cedo ou mais tarde um aluno se suicidasse? Nós temos dezenas de alunos se mutilando por questões ligadas à orientação sexual, pela discriminação, pelo preconceito, na escola, na sociedade, na família”, pontua.

O projeto, ressalta o professor, “veio para empoderar esses alunos. Para eles perceberem que podem ser felizes com os recursos que dispõem e a escola não pode ser omissa. Acho que é obrigação do professor problematizar essas questões. Acho que faltou sensibilidade na fala do deputado. Foi uma fala hostil, carregada de ódio, que me posiciona como um criminoso, não como um educador. Eu tenho contribuído com a educação do povo de Tapera há 12 anos. Tenho projetos fantásticos no município e no Estado. Então não está se tratando de um criminoso, mas de uma afronta de um membro do legislativo a um educador”, diz.

Ameaças

Segundo Daniel Macedo, os alunos, todos do segundo ano do ensino médio, entre 16 a 18 anos, vítimas do preconceito, relatavam a ele as agressões sofridas. Em sua página do Facebook, Daniel Macedo descreve as falas de ódio lançadas contra os estudantes, que após a execução do projeto já demonstravam segurança e força para lutar e vencer a discriminação.

Porém, uma reportagem de caráter preconceituoso publicada em um jornal do Paraná, falando sobre o projeto, aumentou o ódio e a partir de então o educador afirma já ter recebido mais de 80 ameaças em tom de calúnia, difamação, intolerância e homofobia, feitas em suas redes sociais e na página do Escola sem Partido, movimento de ideias conservadoras.

Questionado se está com medo, Daniel Macedo disse que sim. “Moro com minha mãe idosa, que está sofrendo com isso e eu estou sofrendo muito porque estou com medo de trabalhar, envergonhado diante dos meus alunos, embora não tenha feito nada de errado. Não sou de Tapera, mas se você perguntar quem é Daniel Macedo, todos vão falar em reconhecimento ao meu trabalho”, diz o professor, que é concursado do Estado, formado em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB) e Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Sobre as ameaças sofridas pelo professor, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) informou que está dando todo o apoio ao educador, inclusive disponibilizando apoio jurídico.

 

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