Profissão: leitora

(Foto: Lucíola Pompeu)

O primeiro livro que li sozinha, de cabo a rabo, foi presente da minha saudosa tia Suzete. Ganhei no meu aniversário de oito anos. Chamava-seMemórias de um Burro. Escrito por uma condessa russa, a de Ségur (1799-1847). O enredo é universal: cansado de carregar cargas e ser maltratado, o burrico foge para uma vida plena de liberdade e aventuras. O que conto e o que conta: a partir do Memórias de um Burro me apaixonei pela leitura. Finalmente encontrei nos livros minha brincadeira perfeita. Eu não precisava negociar com ninguém o que e como me divertir. Ler me tornava autossuficiente.

Por  Fernanda Pompeu Do Yahoo

E claro, houve a mãozinha do meu pai. Leitor inveterado, tarado por jornais e livros, ele me estimulava a ler o quanto quisesse. Na minha adolescência, papai – apaixonado pela União Soviética – inundou meus olhos e sentidos com escritores russos do século 19. Safra talentosa de Dostoiévski, Tolstói, Gogol e cia. Também o americano Ernest Hemingway, autor de O Velho e o Mar. Meu pai gostava dele, porque Ernest havia lutado contra a monarquia na guerra civil espanhola. Depois foi viver em Cuba, a ilha do tesouro de papai. Ao lado desses, por suposto, mergulhei no Machado de Assis, Lima Barreto, Clarice Lispector, Carolina de Jesus, Drummond, Bandeira, Quintana e deliciosos outros.

Ao entrar na faculdade, troquei a zona de influência paterna pela zona de influência dos novos e ardentes amigos. O banquete de leituras foi a turma hispano-americana: Borges, Cortázar, Vargas Llosa, García Márquez, Rosario Castellanos. E de sobremesa, os surrealistas com suas escritas automáticas, alucinógenas, provocativas. Houve também uma troca ideológica. Entrei na Liberdade e Luta, grupo trotskista que desprezava o PCB do meu pai. Fui ficando grandinha.

De lá para muitos anos aqui, não tenho militância e nem encanto por política partidária. Tudo muito parecido, mesmo quando pelo avesso. O que continuo é louca por livros de papel ou digital. Tanto faz! O que gosto para valer é de ler romances, contos, crônicas, poesias, entrevistas, reportagens, matérias, perfis, biografias, publicidades, manuais, ensaios, resenhas, roteiros de cinema, peças de teatro, diários, legendas, cartas, e-mails, postagens no facebook, twitter, blogs, whatsapp, messenger, bulas de remédios. Têm letrinhas? Tô dentro.

-+=
Sair da versão mobile