Psicóloga reforça necessidade do ‘autocuidado’ durante a pandemia

FONTEFonte: Tribuna do Norte
Créditos- Marcello Casal Jr:ABR

A pandemia do coronavírus trouxe mais do que estatísticas assustadoras, necessidade de isolamento e consequências sociais e econômicas para o mundo. Para a população de forma geral e profissionais de saúde, o momento também veio carregado de instabilidade na carreira, de ansiedade e sentimentos de exaustão, mas não só isso.

Distúrbios psiquiátricos, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático são apontados como risco ou realidade nesse contexto, como apontam o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz, em uma publicação específica sobre saúde mental nesse momento, e um artigo publicado em 23 de março no portal do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o CDC, que observa que, na China, onde começou a pandemia, tais efeitos foram verificados em pessoas consideradas de alto risco, principalmente sobreviventes da doença e profissionais de saúde que estão na linha de frente de atendimento.

“É importante que os profissionais de saúde façam uma auto reflexão de como estão nesse processo de atendimento das pessoas, de quando eles não podem parar, mesmo que não seja diante do coronavírus, mesmo que seja no atendimento de outras enfermidades”, comenta a psicóloga, mestre em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde e psicoterapeuta de crianças e adolescentes, Fernanda Rebouças.

Em um vídeo de uma série que o Instituto Santos Dumont (ISD) está publicando sobre os efeitos da pandemia e sobre o que é possível fazer para contorná-los ou reduzir riscos, ela ressalta a importância de os profissionais de saúde “conseguirem momentos de autocuidado” em meio ao turbilhão que estão enfrentando.

Fernanda é preceptora de psicologia clínica no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do ISD – Organização Social vinculada ao Ministério da Educação e referência na saúde-materno infantil e da pessoa com deficiência em Macaíba (RN). Ela tem atribuições de desenvolver habilidades clínicas e avaliar os profissionais-residentes em formação na área de psicologia.

‘Mudar o foco’

Em um contexto em que no noticiário e nas conversas “é só corona que aparece”, ela ressalta que mudar o foco é fundamental para a saúde mental – dos profissionais de saúde também. Esse seria o que chama de “momento de autocuidado”.

“É perguntar para o seu filho, para o seu esposo, para a sua esposa, coisas aleatórias, do dia a dia. É importante a gente focar no presente, no que a gente está vivendo, porque quando a gente pensa no futuro dá uma angústia. A gente não tem certezas então isso gera um um incômodo muito grande. Gera para a população em geral e também para o profissional de saúde”.

Focar em situações com resultados positivos e se auto-perceber, acrescenta, são outras chaves para atravessar o momento.

E “não ter todas as respostas exigidas também faz parte do processo”.

“Esse é um momento de adaptação. Possivelmente você (profissional de saúde) nunca passou por uma pandemia antes. E aí essas respostas vão chegar para você em algum momento. Não se sinta cobrado. Não coloque em você essa carapuça que estão querendo colocar de você ser o super-heroi. Você, assim como qualquer outro brasileiro, é humano”, ressalta ela no vídeo.

A psicóloga observa ainda que o sentimento de “eu não consigo dar conta” é normal nesse cenário. “Isso não quer dizer que você faz o seu trabalho mal feito”.

Ela aponta ainda a importância de os profissionais de saúde pedirem ajuda a outros profissionais “se perceberem que o auto-gerenciamento dessa ansiedade, desse sentimento de exaustão pode estar chegando em um nível muito alto”. “Vocês não precisam ficar sós”.

Apoio

O governo do Rio Grande do Norte disponibiliza desde 26 de março uma Central de Atendimento para esclarecer dúvidas e prestar acolhimento psicológico sobre o novo coronavírus, em todo o estado. O número de telefone é 3190.0700 e funciona das 8h às 23h.

“O objetivo é proporcionar apoio à sociedade, que poderá tirar dúvidas e receber, por exemplo, orientações sobre autocuidados, modos de prevenção e identificação de sintomas, visando minimizar, em um primeiro momento, a necessidade de ir a uma unidade de saúde. Dessa forma, evita-se o contato com outros pacientes e, consequentemente, possibilidades de transmissão do vírus, caso algum deles já esteja com a doença Covid-19”, disse o governo no dia do lançamento.

Em uma publicação online sobre saúde mental no contexto da pandemia, o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz apontam entre as reações mais frequentes neste momento: “medo de adoecer e morrer, de perder as pessoas que amamos; de perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido; de ser excluído socialmente por estar associado à doença; de ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena; de não receber um suporte financeiro e de transmitir o vírus a outras pessoas. “É esperado também a sensação recorrente de impotência perante os acontecimentos; de Irritabilidade; angústia e tristeza”,

Mente Sã

Dentre as estratégias de cuidado psíquico para esse momento de pandemia, recomenda-se:

Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar;

Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir  em  exercícios  e  ações  que  auxiliem  na  redução  do  nível de  estresse  agudo  (meditação,  leitura,  exercícios  de  respiração, entre  outros  mecanismos  que  auxiliem  a  situar  o  pensamento  no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);

Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades  básicas,  garanta  pausas  sistemáticas  durante o  trabalho  (se  possível  em  um  local  calmo  e  relaxante)  e  entre  os turnos.  Evite  o  isolamento  junto  a  sua  rede  socioafetiva,  mantendo contato, mesmo que virtual;

Caso  seja  estigmatizado  por  medo  de  contágio,  compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas;

Investir   e   estimular   ações   compartilhadas   de  cuidado,  evocando a  sensação  de  pertença  social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário)

Reenquadrar  os  planos  e  estratégias  de  vida,  de  forma  a  seguir produzindo  planos  de  forma  adaptada  às  condições  associadas  a pandemia;

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas;

Evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;

Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;

Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde;

Reduzir  o  tempo  que  passa  assistindo  ou  ouvindo  coberturas midiáticas;

Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social;

Estimular   o   espírito   solidário   e   incentivar   a   participação   da comunidade.

*Caso  as  estratégias  recomendadas  não  sejam  suficientes  para o   processo   de   estabilização   emocional,   busque auxílio   de   um  profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial para receber orientações específicas.

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