A boneca Barbie é admirada por sua beleza e atitude e tem sido o espelho de uma sociedade em mutação. Desde seu nascimento, há mais de 50 anos, ela tem se reinventado. Inspira-se no mundo real e desperta os mais variados sonhos em meninas de várias partes do mundo e com culturas diferentes. Falando nisso, crianças afrodescendentes também podem se ver em Barbie e encontrar inspiração para seus sonhos de vida e de carreira no futuro. Essa identidade pode ser conferida na exposição Black Barbie – Celebração da Beleza Negra, que alcançou um grande sucesso de público no Shopping Páio Higienópolis, em São Paulo e que passará por outras cidades brasileiras em 2010 e 2011.
É a primeira exposição itinerante no Brasil de bonecas afrodescendentes da linha Barbie. Ao todo são 80 bonecas que fazem parte do acervo do colecionador Carlos Keffer, que possui uma das mais valiosas coleções de Barbie do país, com mais de 700 modelos. “É uma coleção muito valiosa, a única do Brasil que tem um exemplar original da primeira Barbie, lançada em 1959. Na época foi uma edição de lançamento em que chegou ao mercado 351.000 exemplares, mas muitos se perderam com o tempo ou foram consumidas pelos sonhos das crianças… então hoje é muito raro este exemplar. Tive de vender na época meu carro para comprar esta boneca, foi a maior loucura que fiz em minha vida, coisa de colecionador mesmo”, afirma Carlos. Dezenas de moldes de rostos que Barbie e suas amigas receberam através dos tempos podem ser admirados por meio de 11 grupos temáticos: Black Fever (Era Mod e Disco); África e Afrodescendentes; Profissões; Alta-Temperatura; Mundo jovem; Fashion (na passarela da moda); Divas (vestidos de gala e glamour); So In Style (amigas com o estilo black nos dias de hoje); Porcelana (luxo de Barbie em porcelana); Princesas (celebração dos contos de fada) e Noivas e Anjos (casamento e festa para Barbie). A exposição – que presta homenagem aos 30 anos da primeira Barbie negra, de 1980, com o exemplar original – também apresenta 13 fotos-destaque do fotógrafo Ricardo Schetty, e um modelo customizado especialmente para o evento pelo badalado estilista brasileiro Wilson Ranieri. Além das bonecas e todo o seu contexto histórico, o evento conta com uma mesa com edições de revistas que celebram ícones da beleza negra (de Diana Ross a Michelle Obama) e uma brinquedoteca, que oferece às crianças a oportunidade de brincarem com bonecas de todas as cores, seus móveis e casas, além de aprenderem a fazer penteados afros para suas bonecas.
ENSINO LÚDICO
Os anos 60 foram marcados por mudanças que ecoam até hoje, uma época de grandes transformações sociais. Em 1966, o estilista Paco Rabanne fez desfilar pela primeira vez modelos negras. Um ano depois, foi criado o movimento Panteras Negras, o Black Power estava nascendo e o penteado afro foi projetado ao topo da moda. Manequins negras e mulatas ganharam reconhecimento, inspirando criadores como Yves Saint Laurent. A Era Mod surgia com minissaias, cores vibrantes e muito swing. É nesse cenário que a família Barbie recebeu, em 1965, a primeira versão negra de sua prima Francie e, na sequência, em 1968, sua primeira amiga negra, Christie, que viria a se tornar uma das melhores amigas de Barbie, sua confidente e parceira de todos os momentos. Em 1979 o grupo Village People cantava: “Vocês estão prontos para os anos 80, prontos para a hora da virada?”. Era o anúncio de uma década mais democrática, promessa de que
muitas pessoas teriam acesso a muitas coisas. Assim surgiu Black Barbie (a primeira Barbie negra), em 1980. Vestida para dançar nas discotecas do momento, com muito brilho, penteado afro e adereços de inspiração étnica. Seu visual era encantador e enfatizava o orgulho negro. A partir daí, as bonecas da família Barbie abriam um caminho natural para a diversidade. A África Negra aparece na coleção “Bonecas do Mundo”, a partir de 1989, e são lançadas versões negras em inúmeras linhas, celebrando as profissões, a história da moda e o mundo de sonhos e fantasia. Hoje a família Barbie recebe uma coleção especial, só de bonecas afrodescendentes, chamada So In Style.
CARÁTER CULTURAL
Desde 2002, Carlos Keffer realiza as exposições oficiais da Barbie, supervisionado pela empresa fabricante, a Mattel, sempre procurando unir cultura e diversão, dando expressão a temas relevantes. Em cada evento, presença garantida de muita informação, seja nas legendas das bonecas que contam curiosidades, processo de criação ou em quem cada uma delas foi inspirada, ou em painéis e mesas/mostruários com objetos complementares. E sobre a exposição Black Barbie, em especial, o colecionador avisa: “Acho que este evento vem celebrar a cultura e a raça negra em um momento muito especial, em que temos a Michelle Obama, uma visibilidade enorme de atrizes negras nas telenovelas e em tantos outros aspectos da vida social. Barbie é um simbolo aspiracional e as bonecas negras são muito importantes para que as crianças negras se vejam e vejam seus sonhos através de Barbie. Culturalmente falando, essa exposição mostra a trajetória das conquistas dos negros da década de 60 aos dias de hoje. Falar da história da Barbie é contar as conquistas e transformações das mulheres e seu papel social, mas no caso de Black Barbie, é também ensinar sobre a conquista dos negros e seu processo de afirmação social”.