Que vergonha ser adulta em uma sociedade que assassina suas crianças

FONTEPor Bianca Santana, do Ecoa
Bianca Santana - Foto: João Benz

Todos os dias, ao longo de 2015, 32 crianças ou adolescentes foram assassinadas no Brasil. Em um ano, um total de 11.403, sendo 10.480 meninos. No mesmo período, na guerra da Síria, morreram 7.607 meninos.

Cidadãos de bem, religiosos, defensores da pátria e da família, vocês dormem bem com este dado?

Eu não durmo.

Como todo mundo já sabe, crianças brasileiras não são alvos de balas perdidas. Meninas e meninos negros é que são alvos do genocídio. No Rio de Janeiro, 91% das crianças assassinadas por tiros são negras.

Na UNEafro Brasil, movimento de que faço parte, nos dedicamos à educação popular e à organização comunitária como estratégias de promoção de vida e acesso a direitos para pessoas negras e periféricas. Atuamos com mais de uma centena de entidades na Coalizão Negra por Direitos, fazendo incidência política nacional e internacionalmente para interromper o genocídio negro. Somos milhares de pessoas organizadas coletivamente para acabar com o racismo, o machismo, a LGBTfobia e todas as formas de opressão. E nada do que fazemos tem sido suficiente.

Vocês, que não são militantes, nem ativistas, nem defensores de direitos humanos: o que sentem ao saber que Emilly e Rebecca foram assassinadas na porta de casa, enquanto brincavam? Que o fuzil disparado em direção a elas pertence ao Estado brasileiro e foi operado por um policial, servidor do Estado?

Além de vergonha, sinto uma tristeza que não cabe em palavras.

Espero acordar amanhã com essa tristeza transmutada na indignação necessária para seguir em luta.

E espero que você se indigne também.

Para interromper o genocídio em curso no Brasil, precisamos de todo mundo.

Bianca Santana é jornalista. Autora de “Quando me descobri negra” e organizadora de coletâneas sobre gênero e raça, foi convidada da Feira do Livro de Frankfurt em 2018 e da Feira do Livro de Buenos Aires em 2019, quando também foi curadora do Festival Literário de Iguape. Pela UNEafro Brasil, tem contribuído com a articulação da Coalizão Negra por Direitos. No doutorado em ciência da informação, na Universidade de São Paulo, pesquisou a escrita e a memória de mulheres negras. Foi professora da Faculdade Cásper Líbero e da pós-graduação em jornalismo multimídia na Faap. Atualmente, está escrevendo uma biografia sobre Sueli Carneiro.
Fonte: Por Bianca Santana, do Ecoa
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