Quem é Francia Márquez, o fenômeno político da Colômbia

Militante do meio ambiente e feminista antirracista, Márquez recebeu mais de 700 mil votos e pode ser a vice de Gustavo Petro

FONTEFórum, por Marcelo Hailer
Francia Márquez (Foto: Natália Carneiro/Geledés)

As eleições legislativas que ocorreram neste domingo (14) na Colômbia consagraram Gustavo Petro como o favorito a vencer as eleições do país que ocorrem em maio deste ano.

Com mais de 4 milhões de votos, Petro será o nome da coalizão Pacto Histórico, uma coalizão de esquerda, mas, uma outra pleiteante ganhou destaque quando os resultados da prévia foi divulgado: Francia Márquez, que também disputou as gerais do Pacto Histórico e ficou em segundo lugar com 757 mil votos (15%) e superou, em votos, o candidato de centro. 

Após receber os resultados, Francia Márquez e seus apoiadores apenas cantavam e repetiam o slogan da campanha: “O povo não se rende, porr*!”. 

Francia Márquez, o fenômeno da política colombiano

Líder do movimento ambiental e feminista antirracista, Francia Márquez, com os seus mais de 700 mil votos, deixou para trás figuras tradicionais da política, e que tiveram muito dinheiro em suas respectivas campanhas, como Sergio Fajardo, que já foi três vezes candidato à presidência (recebeu 701 mil votos nas prévias desse domingo), o ex-ministro Alejandro Gaviria e o ex-governador de Boyacá, Carlos Amaya. 

Porém, além de ter atropelado nomes tradicionais da política colombiana, outros dois fatores também explicam o fato de Francia Márquez ser considerado um fenômeno político: é a primeira mulher negra a disputar uma prévia presidencial e a sua campanha começou apenas há três meses. Isso, quando comparado com Gustavo Petro e os outros nomes, é um fato para lá de histórico, pois, todos eles estão há anos em campanha política.

A trajetória política de Francia Márquez 

Francia Márquez nasceu em La Toma Suárez, região de Cauca, no Oeste da Colômbia e começou a ganhar destaque na cena política da Colômbia ao denunciar a mineração ilegal do Ouro, que afeta o ecossistema do rio Ovejas e mais de 250 mil pessoas de sua comunidade.

Em 2018 Márquez convocou um ato que lhe renderia o Prêmio Ambiental Goldman 2018 (conhecido como Nobel Ambienta):Márquez convocou 80 mulheres de sua região e, juntas, caminharam por 10 dias cerca de 350 quilômetros até Bogotá. O ato tinha por objetivo fazer com que as autoridades “ouvissem” as demandas do movimento. 

Em defesa da descriminalização do aborto e contra o neocolonialismo 

Conhecida por ter uma retórica contundente e direta, Franca Márquez tem como bandeiras prioritárias o fim da desigualdade econômica das mulheres, a descriminalização do aborto, presença do Estado em regiões periféricas, erradica o racismo estrutural e preservação do meio ambiente e da “mãe terra”, com ela costuma dizer. 

“Cresci com essas visões de colonialismo, racismo, violência armada, violência estrutural, mas também com a resistência de minha mãe, minha avó, que não aprendeu uma carta, mas que sempre nos ensinou que o importante é cuidar da vida e ver o território como um patrimônio ancestral”, declarou Márquez ao France 24. 

Vice de Gustavo Petro? 

Com o caminhão de votos que conquistou a partir de uma plataforma que tinha como base a defesa da terra, o feminismo antirracista e a descriminalização do aborto, o nome de Francia Márquez tem sido colocado para ocupar a vice de Gustavo Petro. 

Todavia, a questão enfrenta resistência entre os aliados, que preferem um nome “mais ao centro” para ocupar a vice de Petro. Porém, o campo mais à esquerda do Pacto Histórico afirma que, além da sub-representação de mulheres na lista legislativa, o número de votos recebido por Márquez a cacifa para ser a vice-presidenta da chapa. 

Após tomar conhecimento dos resultados, Francia Márquez conversou com a imprensa e fez questão de destacar que não se tratava de uma trinfo seu ou de Gustavo Petro, mas sim do povo colombiano que está optando por um caminho para o país.

“É um triunfo do povo colombiano, o povo desse país está banhado em sangue e agora temos a oportunidade de corrigir, o voto pela Justiça, dignidade e paz. Temos o voto que pode ser capaz de colocar no centro das preocupações a vida. A tarefa não está concluída, está apenas começando. O povo não se rende”, disse Márquez. 

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