A questão negra em Machado de Assis

Academia Brasileira de Letras/Divulgação

Em 2003 é aprovada na Constituição Brasileira a lei 10.639, que obriga o ensino de História e Cultura da África, dos afrobrasileiros e indígenas no Brasil. Tal lei, que discorre apenas sobre a prática do ensino de base, ignora que é preciso que haja formação superior para todos os professores e profissionais da educação que serão responsáveis pela implementação, na prática, dessa lei.

O problema torna-se concreto quando se debruçam os olhos sobre os currículos em todos os cursos de humanas, onde ainda que hajam matérias obrigatórias sobre esses temas, estão muito longe de agregar o conjunto dos problemas (e soluções) necessários para que se eduquem jovens e crianças com consciência da trajetória dos negros e indígenas no Brasil.

Autores fundamentais da literatura brasileira, como Lima Barreto e Crus e Souza, por vezes são ignorados nos currículos de literatura e ciências humanas, e quando tratados, como no caso de Machado de Assis, escolhe-se ignorar que sua posição enquanto negro e retirar esse importante fato sociológico da análise de suas obras.

No Grupo de Estudos Cultura e Marxismo da USP, decidimos desenvolver reflexões sobre tais autores com a perspectiva de criar visibilidade em torno de suas obras e também de compreender o desenvolvimento do combate à ideologia racista presentes em cada um deles.

Em nossa próxima reunião, com convite especial aos trabalhadores de dentro e fora da USP, discutiremos o conto “Pai Contra Mãe”, de Machado de Assis, que poderia ser considerado um marco demonstrador do impacto das lutas por libertação dos negros na intelectualidade brasileira, assim como um importante recurso documental na contestação da tese da democracia racial, fundada a partir das análises sociológicas desenvolvidas por Gilberto Freyre, onde a relação entre negros e brancos teria sido de um “racismo cordial”, desmentido bravamente pela leitura desse conto de Machado.

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