Racismo Estrutural no Brasil não é à toa. O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Até 130 anos, os negros traficados eram mantidos em condições subumanas de trabalho, sem remuneração e debaixo de açoite.
Quando, no papel, a escravidão foi abolida, em 1888, nenhum direito foi garantido aos negros. Sem acesso à terra e a qualquer tipo de indenização ou reparo por tanto tempo de trabalho forçado, muitos permaneciam nas fazendas em que trabalhavam ou tinham como destino o trabalho pesado e informal. As condições subumanas não se extinguiram.
Maria Sylvia, presidente do portal Geledés, e Helena Teodoro, voluntária Instituto de Filosofia e Ciência Sociais – IFCS, explicam como o racismo se estruturou no Brasil, durante e após a escravidão, e como a imagem do negro foi associada à vadiagem, ao subalterno, ao sujo. Não à toa, as tarefas mais árduas, as piores remunerações e as formas mais cruéis de castigo ainda são reservadas aos pretos.
Participantes: Maria Sylvia de Oliveira, Advogada e Presidente do Geledés; Helena Teodoro, Primeira doutora negra do país e Voluntária do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS.
Racismo Estrutural – transcrição do vídeo (legenda)
Até 1888 eramos trabalhadores escravizados, mas trabalhávamos. A partir daí, somos vistos como preguiçosos, que não gostamos de trabalhar, vadios…
O racismo institucional existe e atua dessa forma na vida das pessoas negras, porque existe o racismo que foi se estruturando ao longo do final do século 19 até o que a gente presencia hoje.
Nós tínhamos até 1888, um regime de escravidão: uma escravidão, que era justificada através de teorias científicas, que dizia não que os negros eram de raça inferior. E por conta disso a possibilidade de você escravizar pessoas, abaixo de tortura e de muita violência – porque a escravização é isso!
Quando o Brasil percebe, o estado brasileiro percebe, que não vai ter jeito, que ele vai ter que acabar com a escravidão, ele começa a tomar uma série de medidas, inclusive legislativas para possibilitar a marginalização de homens e mulheres, negros e negras.
A gente pode começar por exemplo com a lei que proíbe os negros de estudarem, o ato de império de 1834 era um ato de império que impedia os negros de estudar. Era proibido que os negros estudassem.
Em 1850 você tem a edição do ato de império que eles chamam de lei de terras: as pessoas são proibidas de comprar as terras principalmente os negros e indígenas.
Aí você caminha mais um pouco você tem em 1888 a lei áurea, em 1889 a proclamação da república. Já a partir daí, o estado brasileiro começa a pensar: tá bom e agora quem é que vai trabalhar pra gente?
Os seres humanos são uma espécie só, ele pode ter nascido na mongólia, no pólo norte, no japão, estados unidos ou na américa latina.
O coração é o mesmo, o fígado é o mesmo, a única diferença que existe é a diferenca externa.
A partir daí somos vistos como preguiçosos, que não gostamos de trabalhar, vadios, as mulheres são vistas como prostitutas, hipersexualizadas, ou macumbeiras.
Então já pensando já começa a trazer os europeus, principalmente alemães e italianos para substituir a mão-de-obra escrava.
Muitos desses europeus vêm para o Brasil já recebendo um pedaço de terra, algum dinheiro e animais…
E o que acontece com essa massa de homens e mulheres negros e negras após a abolição da escravatura?
Sem terra, sem educação e sem trabalho…
Em 1890 a república tem as suas primeiras leis penais, dentre elas, a lei de vadiagem, os negros que eram encontrados sem trabalho na rua poderiam ser presos. E você tem a lei do capoeira, que proíbe os negros de jogar capoeira ou de manifestar as suas culturas na rua, porque na verdade o intuíto além de proibir essa manifestação, era proibir o agrupamento, o ajuntamento denegros nas ruas.
É por isso que a gente fala hoje, que tem o racismo, e que ele foi estruturando-se (racismo estrutural).
É preciso inclusive que se veja o trabalho que o ministério público de Pernambuco fez sobre o racismo institucional, mostrando com o nosso poder de polícia sempre foi voltado para manutenção do “status quo” de quem segue os mandamentos da cartilha européia: branco, cristão, macho.
Há uma justificativa ao processo ideológico por trás de ter as prisões brasileiras abarrotada de negros. De ter uma maioria de pobres no país negros…
Esse é um projeto do próprio grupo comandante.
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