Reflexões sobre a sexualidade e sensualidade negra

Reflexões sobre a sexualidade e sensualidade negra

Pedaço de um papo instigado por amigas negras que buscam viver suas vidas sem os mitos eróticos que aprisionam as mulheres e os negros, nas fantasias eróticas dos brancos:

por marcos romão
“Estou gostando demais destas reflexões, cara Maria Julia Ferreira. Sexualidade e sensualidade da negra e do negro. Bom saber que tem isto no mundo.
Imagino a Europa Vitoriana e a fantasia sexual dos brancos e brancas sobre o que se passava na África, na Ásia, no Oriente e nas Américas.
Imagino a Casa Grande no Brasil pudico português e a fantasia sexual do branco e da branca, sobre o que se passava nos batuques da Senzala…
Os castigos, torturas e castrações que as mulheres brancas infligiam às mulheres negras pecaminosas, os estupros que os homens brancos praticavam nas mulheres negras que eram o próprio pecado e luxúria incorporados numa pele. Imagino.
Os castigos, torturas e castrações que os homens brancos infligiam aos homens negros que assaltariam sua camas e comeriam suas mulheres com suas picas de 2 metros.
As esperanças que as mulheres brancas tinham em seus sonhos em terem finalmente uma noite de prazer com os homens que traziam o pecado em suas peles. Imagino.
Não havia espaço nem para sexo, nem para sensualidade para a mulher negra, nem para o homem negro.
Objetos não se beijam nem se amam. Friccionam-se nas camas.

SÉCULO XX, décadas de 60, 70 no Brasil.

O choque e o escancaro da dor, a revelação que a até então elogiada miscigenação racial no Brasil, foi resultado de um estupro continuado.
As informações vinham de canais acadêmicos e arquivos nas mão de brancos e as significações dadas, foram neste primeiro momento, emprestadas pela fantasia em nossa cabeças ainda brancas de intelectuais brancos que ainda éramos. Não se quebra paradigmas sem vivê-los e conhecê-los. Não se arrebentam sintagmas sem vivê-los por dentro.
Ficamos púdicos, irmãozinhos para cá e irmãozinhos para lá. Como tocar no assunto sexualidade e sensualidade se a fantasia sobre nossos corpos era definida pelos brancos?
Edgard Hoover dono da CIA, colecionava vídeos feitos por seus agentes secretos, sobre as trepadas ” fenomenais” de Luther King. Mulheres e homens brancos no mundo cortejavam as ícones e os ícones do Movimento Negro Mundial e do Brasil. Choviam ofertas de cama para nós, que ainda não tínhamos enquanto coletivo o domínio sobre o nosso sexo, nossa sensualidade e nossas fantasias eróticas.
Ou não falávamos de sexo, ou quando falávamos ficávamos atordoados. Vivemos o que podíamos e f..mos então.

Com ou sem “sexo” fizemos nossos filhos e filhas… Estão aí com suas puberdades e amadurecimentos sexuais, sensoriais e eróticos.

Nossos jovens negras e negros estão aí, diante de um mundo, em que a revolução sexual, privilégio de brancas e brancos das classes médias das décadas de 60,70 e 80 quando a participação dos negros e negras nestas delícias era apenas simbólica….como resume a frase “a mulher é a negra do mundo”… hoje se espalha via whats app por todas as classes e cores… As tatuagens, privilégios dos brancos europeus, se espalham nas camas pretas.
Vejo nas ruas mulheres e homens negras que mostram em seus perfis a frase: Sou dona do meu sexo e daí?
É uma revolução popular sem intelectuais que a dirijam. Atordoa.
Pensar nisto me dá prazer, pois vejo o novo. Me dá prazer mas me deixa atordoado, ainda bem, pois não tenho mais nenhum chavão para definir o que é sexualidade e sensualidade negra.marcosromaoreflexões‬

 

Fonte: Mamapress

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