Reparação e Bem Viver: Geledés promove mesa sobre Marcha das Mulheres Negras 2025

Foto: eyes@grazi

No dia 25 de abril, Geledés – Instituto da Mulher Negra promoveu a mesa “Reparação para Mulheres Negras”, que abordou a construção da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá em 25 de novembro deste ano, em Brasília. O evento fez parte da programação de aniversário de 37 anos da organização. 

A mesa contou com mediação de Sueli Carneiro, filósofa e cofundadora de Geledés, e participação de Nilma Bentes, cofundadora do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa); Lúcia Xavier, assistente social e cofundadora da ONG Criola; Maria Malcher, professora e integrante do Cedenpa; Juliana Gonçalves, jornalista, mestra em Filosofia e atuante a Marcha de Mulheres Negras de SP; e Naiara Leite, jornalista, mestra em Comunicação e coordenadora executiva da Odara. 

“Com o tema ‘Reparação e Bem Viver’, a Marcha nos convoca a reimaginar o país. Um país onde a vida negra tenha reconhecida e valorizada a sua dignidade humana. Onde a política seja lugar de cuidado, de justiça, de futuro”, afirmou Sueli Carneiro.

Com expectativa de reunir um milhão de mulheres negras, o evento se configura como a segunda edição da Marcha Das Mulheres Negras, que ocorreu em 2015 e reuniu mais de 50 mil mulheres contra o racismo, a violência e pelo bem viver, também em Brasília. 

“Nós, mulheres negras do Brasil, irmanadas com as mulheres do mundo afetadas pelo racismo, sexismo, lesbofobia, transfobia e outras formas de discriminação, estamos em marcha. Inspiradas em nossa ancestralidade, somos portadoras de um legado que afirma um novo pacto civilizatório”, dizia um trecho da Carta das Mulheres Negras 2015

Fotos: eyes@grazi

Por reparação 

Sueli Carneiro iniciou a conversa perguntando o que significa reparação para cada uma das presentes e como esse tema tem sido trabalhado durante a construção da Marcha. Para Juliana Gonçalves, falar sobre o tema inclui debater a justiça racial, o combate ao genocídio negro e uma nova construção econômica, que se distancie das premissas exploratórias e opressoras do capitalismo.

“Em 2015, invocamos o bem viver, construímos muitos imaginários dentro desse bem viver, baseados numa vivência feminista negra, periférica, das mulheres do campo, dos terreiros, das quilombolas. E agora, ousamos falar de reparação. É a chance que temos de materializar o imaginário criado 10 anos atrás”, afirma a jornalista. 

Lúcia Xavier pontuou que o tema da reparação pecuniária à população negra, em razão dos danos causados pelo período de escravidão, não é um assunto novo, e foi tratado, inclusive, na Conferência de Durban de 2001. Mas houveram dificuldades de se disseminar estratégias para efetivação dessa reparação. 

Nilma Bentes sugeriu exemplos práticos de reparação, ligados à construção de um fundo financeiro destinado a políticas de crédito, moradia, aposentadoria e educação. “Temos que participar politicamente, levando a proposta de uma sociedade não alternativa, mas alterativa, em que a gente realmente tenha protagonismo efetivo”, disse. 

Maria Malcher, por sua vez, explicou que a Marcha é uma possibilidade de trazer o tema da reparação para o cotidiano das mulheres negras. Na mesma visão, Naiara Leite destacou que a Marcha trata a reparação a partir de uma nova perspectiva, ouvindo mulheres negras afetadas diretamente pelas consequências da escravidão, como as mães que perderam seus filhos para o genocídio, mulheres quilombolas que buscam titulação de suas terras e trabalhadoras domésticas.

“São essas costuras que farão com que a gente forje o que, de fato, queremos disputar na perspectiva de reparação”, disse a coordenadora da organização Odara. Ela ainda   acrescentou que, além de econômica, a reparação deve ser feita no âmbito da memória. 

Por bem viver

Em seguida, Sueli Carneiro questionou as participantes sobre suas visões acerca do termo bem viver, cunhado por Nilma Bentes, ativista que foi responsável também por propor a Marcha das Mulheres Negras de 2015. 

Bentes explicou que tomou conhecimento do termo durante o Fórum Social Mundial 2009,  ocorrido em Belém. Então, passou a usar a definição como uma alternativa ao neoliberalismo, priorizando o respeito à ancestralidade e a subordinação da economia aos fatores ecológicos. 

Para Lúcia Xavier, o bem viver pode ser visto a partir do ponto de vista das ialodês, que criaram relações de comadrio e de amadrinhamento, pensando no viver coletivo. “Eu considero que a expressão que a Nilma cunha nessa primeira etapa da Marcha é a que melhor casa com todas as nossas tradições”, diz. 

Já Maria Malcher pontuou que o bem viver é um horizonte utópico, uma construção que guarda relação próxima com a diáspora. E afirma que, com a Marcha, anseia por “uma reparação com bem viver”. Naiara Leite, por sua vez, destacou que o conceito marca um contraponto ao capitalismo e uma nova possibilidade de sociedade. 

Juliana Gonçalves contou sobre a pesquisa que realizou durante o mestrado, em que abordou o bem viver em narrativas de mulheres negras de todas as regiões do país. Segundo a pesquisadora, o conceito é dinâmico e se desenvolveu muito desde a realização da primeira Marcha, podendo ser sistematizado em cinco elementos: relação com a natureza, diversidade e riqueza civilizatória, coletividade, valorização dos saberes ancestrais e crítica ao capitalismo. 

“O bem viver é anticapitalista e é intrinsecamente uma elaboração política de mulheres negras”, afirmou. 

Como participar da marcha?

Sobre o processo de construção da Marcha de Mulheres Negras 2025, as participantes ressaltaram os desafios quanto à mobilização de recursos financeiros para levar milhares de mulheres do Brasil inteiro para marcharem na capital do país. Pontuaram ainda a necessidade de de uma estratégia de comunicação assertiva, mostrando porque marchar é fundamental, convocando a juventude para participar. 

A marcha está sendo organizada a partir de comitês regionais, estaduais e municipais. Para colaborar, é preciso se organizar em seu território, participar das ações contínuas e entrar em algum dos comitês. É possível acompanhar as atualizações sobre o evento através do perfil no Instagram Marcha das Mulheres Negras Por Reparação e Bem Viver

“A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver não é só um ato, é um processo de transformação social. Quando o acesso à saúde, educação, moradia, bem estar, sonhos e oportunidades for para todas as pessoas, quando todos os povos tiverem autonomia e respeito, estaremos construindo um novo futuro, onde nossos direitos, vozes e presenças sejam inegociáveis”, pontua um trecho do texto disponível no site da marcha.

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