Responsabilizar com humanidade

Manifestações de intolerância crescem no mundo, e aqui não é diferente

A declaração contundente do desembargador do Tribunal de Justiça do Rio, de que há uma certa “aversão” de promotores(as) na proximidade com meninos e meninas infratores(as), principalmente por determinadas condições sub-humanas de higiene a que são submetidos pelo Estado, não agradou.

Por Mônica Francisco Do Jornal do Brasil

Mais do que não agradar, causou desconforto e tensão entre membros do Ministério Público. Ora, essa questão é sem dúvida, de extrema relevância, ainda mais vindo de uma figura pública das mais importantes e respeitáveis do nosso país e incansável lutador dos direitos da infância e da adolescência.

A relevância do tema tão polêmico é que a afirmação do desembargador pode ser a ponta do novelo que leve à saída do labirinto da discriminação e da total falta de respeito à vida dos mais vulneráveis. Como fazer justiça ou garanti-la, se quem o deveria fazer não “suporta” a interação com a realidade destes meninos e meninas?

Mais do que se armar de fatos graves e que desencadeiam a comoção coletiva, embotando a consciência e dificultando o raciocínio, causando assim um “desvio” do que de fato deveria se estar discutindo agora, ou seja, o que de concreto vem se fazendo em relação à infância brasileira?

Não qualquer infância. Estamos falando dos meninos e meninas que estão compondo as áreas periféricas dos grandes centros urbanos e os esquecidos os interiores deste país continental.

O debate é amplo, profundo, doloroso e requer vontade política e sensibilidade. Ambos estão ausentes no discurso e na prática dos poderes constituídos e das instituições.

As vozes dissonantes e que acenam com verdades que muitos acreditam nunca deveriam ser ditas, são uma minoria, infelizmente.Talvez não em número, mas na força de manutenção e viabilização de suas ideias e práticas, que visam impedir o esvaziamento de um assunto tão sério e um avanço na punição pela punição, no melhor estilo dente por dente, olho por olho.

Muito difícil em uma sociedade que prefere esconder seu racismo, ocultar com todas as forças a sua rejeição aos mais pobres, e ansiar por vingança mais do que por justiça.

O que busca o desembargador e todos que lutam pela consolidação da vida e do direito, não é deixar de responsabilizar, é responsabilizar com humanidade, isso é justiça.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

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