Ressurreição

Por: CRISTIANO CIPRIANO POMBO

Após ter sua carreira questionada, Daiane dos Santos chega ao fim da suspensão por doping e, 100% fisicamente, nasce de novo para o esporte

Após viver o que chamou de o pior momento da carreira -o julgamento e a pena por uso de substância proibida-, Daiane dos Santos está de volta à ginástica artística.

 

Hoje a atleta encerra o martírio que a condenou a cinco meses de suspensão por uso do diurético furosemida, vetado no esporte, e está livre para competir.

“Sempre falei que a ginástica iria parar comigo, e nunca eu com ela”, diz a atleta.

É o sexto retorno de Daiane, de acordo com o histórico médico iniciado em 1999 e que se arrastou até 2010 com seis intervenções cirúrgicas nos joelhos. A suspensão por doping coincidiu com o período do tratamento iniciado em novembro de 2008 e que envolveu três operações, fisioterapia e disciplina.

Desta vez, porém, a volta se dá de forma mais velada e difícil, pois envolve não só a superação física. “Tive minha carreira toda posta à prova no caso do doping. Passei a depender do julgamento das pessoas. Isso é pior do que qualquer lesão.”

Daiane, 27, teve que depor em dezembro por seis horas na sede da federação internacional, na Suíça, e ficou aliviada ao receber em janeiro a pena mínima -cinco meses de suspensão. Se pegasse seis meses ou mais de gancho, seria impedida de ir à Olimpíada de 2012, na qual pretende encerrar a carreira.

Ela alega ter usado diurético em tratamento estético para reduzir gordura no abdome. “Não foi para ter vantagem esportiva. Foi quando não estava gostando do meu corpo e não podia atuar devido à cirurgia [no fim de 2008, para alinhamento ósseo].”

Nos meses de silêncio -ela se pronunciou pela última vez em 30 de janeiro-, agarrou-se à família e ao namorado, o lutador de MMA (vale-tudo) Jadson Costa. “Não precisei de psicólogo. Mas chorei e vivi os piores momentos da minha vida.”

A reabilitação foi testada há 15 dias, quando Daiane se deparou com novo teste de doping. O resultado foi negativo, e ela sonha com o Mundial de Roterdã, em outubro.

 

Sem atuar desde a Olimpíada de 2008, diz que a primeira meta é voltar à seleção. Para isso, tem treinado desde 6 de janeiro, seis horas por dia, no clube Pinheiros.
“Ela é capaz de fazer hoje coisas que não conseguia, em movimentos de flexão e força no joelho”, diz o médico do Pinheiros, Wagner Castropil, responsável pelas últimas cirurgias na atleta.

 

Segundo ele, Daiane hoje está livre das injeções de líquido sinovial que lhe foram comuns de 2004 a 2008. Agora, só carece de um suplemento alimentar com glucosamina, para proteger a cartilagem das articulações.
“Se houve uma coisa boa no doping, foi o tempo que ela teve para se recuperar.”

E estar 100% fisicamente pela primeira vez na década permite à atleta novidades, como atuar na trave, que evitava por causa dos impactos.

Ela trará música nova no solo, em que obteve o primeiro título mundial da ginástica do país, em 2003. Após “Para Los Rumberos” e “Brasileirinho”, usará um mix de dance music e ritmos latinos.
Daiane voltará ao tablado em 2 de julho, quando o Pinheiros abrigará torneio estadual e fará festa para ela, que não se pressiona por resultados -o último pódio no circuito mundial foi em maio de 2007. “Agora, que nasci de novo para a ginástica, é dar um passo de cada vez.”

 

Fonte: Folha de S. Paulo

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