Rio Grande do Sul: Racismo dificulta rotina de pessoas negras no Estado

O estudante angolano Luíz Puati, 21 anos, está ambientado ao Rio Grande do Sul. Há um ano em São Leopoldo, onde estuda Engenharia Eletrônica graças a uma bolsa de intercâmbio, o jovem revela ter feito vários amigos no município. A explicação talvez esteja relacionada à simpatia de Puati. Enquanto conversa sobre a faculdade, o universitário checa as mensagens que chegam pelo celular e acena até para quem ele não conhece. “Sou muito comunicativo”, resume.

 

Por:Leonardo Vieceli no, Unicos

Ao lembrar-se dos primeiros dias no Estado, porém, o sorriso entre os lábios dá lugar a uma expressão mais séria. Quando chegou ao Vale do Sinos, junto com outros colegas angolanos, Puati enfrentou olhares ressabiados de uma parcela da população local. À época, pensou em deixar a graduação e voltar para casa. “As pessoas pareciam ter medo. O Estado não é racista, mas há uma minoria preconceituosa”, afirma.

Angolano é estudante de Engenharia Eletrônica no Vale do Sinos (Foto: Leonardo Vieceli)
Angolano é estudante de Engenharia Eletrônica no Vale do Sinos (Foto: Leonardo Vieceli)

Em terras gaúchas, a discriminação não prejudica somente quem é estrangeiro. Formada em Pedagogia, a analista social Elisabeth Natel, 62 anos, menciona que já foi alvo de atitudes racistas. Contudo, o episódio que permanece mais nítido em sua memória ocorreu quando ela e a irmã, Pedronilda, buscavam empregos no comércio de São Leopoldo. “Na época, o dono do estabelecimento disse que não nos contrataria porque a loja perderia clientes por sermos negras”, conta.

Dificuldades no mercado de trabalho, como a enfrentada pelas irmãs Natel, são perceptíveis também em pesquisas sobre o tema. Conforme o estudo Síntese de Indicadores Sociais 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), brancos ganham 59% mais do que negros no Estado.

Elisabeth já vivenciou situações de racismo no Rio Grande do Sul (Foto: Leonardo Vieceli)

Para estudar os aspectos discriminatórios e combater o racismo, Elisabeth integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Unisinos há sete anos. Segundo ela, a melhora do problema passa pelo aprimoramento de projetos educativos como a Lei 10.639, criada em 2003 para levar ensinamentos sobre a cultura afro-brasileira e africana às salas de aula. “A lei precisa ser instituída em todas as escolas gaúchas”, salienta Elisabeth, que analisou a norma em sua dissertação de mestrado.

Apesar das dificuldades, Puati fala que o Estado é um bom lugar para viver. Dentre os atrativos locais, ele destaca a beleza natural. “Conheci Torres. Que cidade linda!”.

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