Saxofonista Manu Dibango, lenda do afrojazz, morre devido ao coronavírus

O saxofonista Emmanuel N'Djoke Dibango, mais conhecido como Manu Dibango, durante um concerto en Abdjã, em 29 de junho de 2018. © AFP/Arquivo

Hospitalizado há vários dias, depois de ter sido testado positivo para a Covid-19, Manu Dibango, saxofonista camaronês e lenda do afrojazz, morreu aos 86 anos na França. A informação foi confirmada na manhã desta terça-feira (24) por um dos responsáveis pela sua gravadora. O camaronês é considerado a primeira celebridade mundial a morrer devido ao coronavírus.

No RFI

O saxofonista Emmanuel N’Djoke Dibango, mais conhecido como Manu Dibango, durante um concerto en Abdjã, em 29 de junho de 2018. (© AFP/Arquivo)

A vida de Emmanuel N’Djoke Dibango, mais conhecido como Manu Dibango, foi inteiramente dedicada à música. Ele ficou conhecido mundialmente com o sucesso de Soul Makossa, em1972, que entrou para a história do jazz.

A música fazia parte do lado B de um disco de 45 rotações, cujo título principal era um hino para o time de futebol de Camarões na Copa Africana de Nações de futebol. Soul Makossa caiu nas graças de DJs de Nova York, e a canção conquistou os Estados Unidos.

Manu Dibango acusou Michael Jackson de plágio em uma música do álbum “Thriller”. Um acordo financeiro foi firmado colocando fim ao litígio.

Manu Dibango nasceu em Camarões em 1933. Foi no coral do templo religioso, onde sua mãe era professora, que ele aprendeu a cantar. Em casa, na vitrola dos pais, ele teve contato com músicas francesas, americanas e cubanas, trazidas por marinheiros que desembarcavam no porto de Douala.

Aos 15 anos, seu pai o enviou para estudar na França. Foram três semanas de barco até chegar ao porto de Marselha onde desembarcou, como conta em sua biografia, com 3 kg de café em sua mochila. Mercadoria rara na França após a guerra, o produto rendeu dinheiro suficiente para pagar um mês de pensão ao jovem.

Precursor da World Music

O jazz entrou na vida de Manu Dibango e nunca mais o deixou. O saxofone se tornou seu instrumento favorito. Ele conheceu o também músico camaronês Francis Bebey, e juntos formaram um grupo que se apresentava em bares e casas noturnas.

Ao deixar de fazer as provas para entrar na faculdade, seu pai deixou de sustentá-lo. Dibango se mudou para a Bélgica, onde seu jazz ganhou contornos mais africanos em contato com a comunidade congolesa local, em plena efervescência.

O Congo Belga declarou independência em 1960. Manu Dibango partiu para Léopoldville, (atual Kinshasa), onde dirigiu uma casa noturna e lançou o twist.

No início dos anos 1960, seu país, Camarões, estava em guerra civil e ele retornou à França, onde descobriu o rythm and blues e estrelas francesas da época como Dick Rivers e Nino Ferrer, que o contrataram como músico.

Nos anos 1990, Manu Dibango gravou o álbum Wakafrika com os maiores sucessos africanos, uma viagem de Dakar à Cidade do Cabo.

Youssou N’Dour, Salif Keita, Angélique Kidjo, Peter Gabriel participaram do projeto. Outros álbuns foram ainda gravados por esse artista genial, precursor da World Music.

Reações

Artistas, autoridades e fãs expressaram tristeza pela morte de Dibango pelas redes sociais.

O músico senegalês Youssou Ndour escreveu no Twitter: “OH NÃO VOCÊ MANU DIBANGO. Não tenho palavras para traduzir minha tristeza. Você foi um gigante, meu irmão, um orgulho para os Camarões e para toda a África. Uma perda imensa! RIP o Rei da Makossa e Gênio (do) Sax”.

O ministro francês da Cultura, Frank Riester, também publicou uma homenagem na rede social. “O mundo da música perde uma de suas lendas. A generosidade e o talento de Manu Dibango não conheciam limites. Cada vez que subia ao palco, ele se entregava intensamente ao público para fazê-lo vibrar de emoção. Penso em sua família e seus entes queridos.”

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