Sem atores profissionais, ‘Subúrbia’ foge da linha tradicional

Enviado por / FontePor LARISSA MOGG, do Terra

Para Luiz Fernando Carvalho, narrar não significa simplesmente tecer uma história. Depois de consagrar um estilo operístico, com cenários lúdicos em suas obras, como em Hoje é Dia de Maria e A Pedra do Reino, o diretor – um dos poucos da Globo com autonomia para produzir um trabalho conceitual para o público – apresenta agora uma “desconstrução” da sua linha de trabalho, com o seriado Subúrbia. Diferentemente das dramaturgias tradicionais da emissora, o seriado, que estreia em 1º de novembro, traz um elenco formado por atores não-profissionais e até por não-atores, em sua maioria. “O cenário é o início da década de 1990. Mais do que mostrar a arte como elemento de salvação, a série reflete a relação do negro com o trabalho na maior nação colonizada da América do Sul”, adianta Paulo Lins, que assina o texto junto com o diretor.

Entre o elenco desconhecido, está protagonista Erika Januza, descoberta ao acaso em Belo Horizonte. “Fui pega de surpresa, mas amei a experiência. Vou tentar seguir carreira”, planeja Erika. Na trama, ela vive Conceição, personagem inspirada em uma mulher que apareceu no caminho de Luiz Fernando, a quem ele carinhosamente chama de “mãe preta”. Subúrbia, minissérie de oito capítulos, parte da história dela, que saiu de Minas Gerais e foi acolhida por uma família do subúrbio carioca. Os autores utilizaram uma linguagem simples para desmentir estereótipos criados ao longo do tempo em relação aos subúrbios do Rio de Janeiro.

“Se eu não tivesse feito o caminho que fiz, não conseguiria fazer Subúrbia. É uma desconstrução porque, para criar uma linguagem simples, é preciso, antes, ter passado pelo clássico”, avalia o diretor. Para construir uma dramaturgia próxima ao real do que hoje é o subúrbio, a produção da série analisou, vivenciou e questionou este universo. “Discutimos cada detalhe antes de iniciarmos a escrita. Foi olho no olho e, assim, enxergamos não só as mazelas, mas também a vontade de querer ser feliz para sempre. De uma vida mais justa”, relata Luiz Fernando. “Por ser uma produção com poucos capítulos, conseguimos fazer algo mais condensado e naturalista”, completa Paulo.

Depois da construção central da série, a produção foi atrás de um elenco que ajudasse a pensar criticamente a visão estereotipada da pobreza que, para o diretor, nada mais é do que “a paisagem humana pintada de um ponto de vista externo e excludente”. Surgiu, então, o ineditismo de centrar os acontecimentos em um elenco majoritariamente negro. “Não temos muito essa oportunidade. Acho que essa é a nova cara do Brasil”, acredita.

Na pele de Cleiton, par romântico da estreante Erika, está o ator Fabrício Boliveira, um dos únicos nomes conhecidos, assim como o escritor e produtor musical Haroldo Costa. “A mistura com pessoas que não são atores para contar essa história foi maravilhosa. Eles dão a forma real. Nós tivemos muita liberdade de falar mais de sentimento, sem ficar completamente preso ao texto”, conta Fabrício, que já atuou em algumas novelas como Sinhá Moça e A Favorita, da Globo.

Deixar o sentimento fluir. Essa era a orientação dada ao elenco, segundo Fabrício. As gravações foram feitas em locações externas, sem cenários. A história se passa em Madureira, mas as filmagens ocorreram também em Paquetá, Quintino, no Centro e Jacarepaguá.

Já as cenas de praia onde os protagonistas vivem o romance foram gravadas no Piscinão de Ramos. “Foi muito complexo de realizar. Mas, por outro lado, foi um prazer enorme. Toda a equipe, que já trabalha comigo há algum tempo, ajudou a desconstruir o meu trabalho tradicional”, comenta. A maior dificuldade, entretanto, foi o tempo.

Subúrbia, inicialmente, teria estreia entre janeiro e fevereiro de 2013, mas foi antecipada para novembro. “Passamos Natal, Ano Novo e Carnaval trabalhando dia e noite sem parar”, lembra Paulo. Apesar da corrida contra o tempo, todas as cenas do seriado já estão gravadas. Resta apenas o trabalho final de edição.

Com a nova minissérie, Luiz Fernando diz procurar o que chama de “linguagem epifânica”, no sentindo de buscar compreender a verdadeira essência dos fatos. Todas as manifestações retratadas em Subúrbia, como samba, funk, hip-hop, candomblé, jongo e capoeira, são apresentadas por pessoas que de fato vivem essa realidade. É o caso dos atores do grupo Nós do Morro, com sede na favela do Vidigal. “O que vai ser mostrado nessa série é o trabalho que já fazemos há muitos anos. Nós nunca paramos de fazer teatro”, adianta Guti Fraga, fundador do Grupo de Teatro Nós do Morro. Integrantes do grupo de rap Panteras Negras, músicos do AfroReggae, do Afro Samba e do grupo teatral Tá na Rua também foram escalados para integrar o elenco do seriado.

 

 

 

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