Com temas envolvendo direitos reprodutivos das mulheres, violência policial, racismo, dentre outros tópicos relevantes para os direitos humanos e a atualidade, foram analisadas e votadas as produções de 23 finalistas que concorrem a 46ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, nas categorias: Arte, Fotografia, Texto, Vídeo, Áudio, Multimídia e Livro-reportagem. A Comissão Organizadora do Prêmio, composta por 17 organizações, incluindo a Abraji, ao lado da família Herzog, realizou a votação em uma sessão pública transmitida ao vivo pelo Canal do Prêmio no Youtube, nesta quinta-feira (10 de outubro).
Para assistir à integra da sessão pública, basta clicar neste link.
A sessão iniciou a votação discutindo a categoria Arte, na qual a avaliação foi comentada pela relatora da categoria Aline Rodrigues, gestora de redes e narrativas da Periferia em Movimento. As três obras finalistas foram: Sem Título, de Benett, da Folha de S. Paulo; A Cultura do Estupro, de Cau Gomez, do veículo A Tarde e Genocídio em Gaza, de Quinho, do Estado de Minas.
A peça vencedora da categoria arte foi “A Cultura do Estupro”, de Cau Gomez, que recebeu 12 dos 14 votos da comissão. “A Cultura do Estupro não é uma pauta só de hoje, é de mais de décadas. A cultura do estupro é silenciada e enviesada geralmente para culpabilização das vítimas”, disse Aline.
Passe Livre
Na categoria Fotografia, a relatora foi a coordenadora de comunicação da Conectas Direitos Humanos, Morgana Damásio. As peças finalistas foram: Crack vs SP, de Bruno Santos, do veículo Folha de S. Paulo; Cachoeira de Sangue, de Eduardo Anizelli, também da Folha, e a obra Passe Livre faz manifestação em São Paulo contra o aumento da tarifa, de Paulo Pinto, da Agência Brasil. Dos 14 votos, um foi para Crack vs SP, cinco foram para Cachoeira de Sangue e oito para Passe Livre, sendo a vencedora da categoria.
A relatora da categoria votou na foto intitulada “Passe Livre”. “Eu acho que é uma imagem que se conecta muito com outras tragédias emblemáticas que a gente tem vivenciado nestes tempos recentes. Essa imagem é sufocante, ela mexe com as emoções”, comentou Morgana. “Ela também me remete o quanto a sociedade normalizou cenas como essas […] também traz dois aspectos importantes, que é o direito ao protesto e o aspecto da violência policial”, complementou.
Fincar o pé
A categoria Áudio contou com a relatoria de Mariana Valadares, representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). As obras finalistas foram: Caso das 10 Mil, uma produção de Angela Boldrini, Raphael Concli, Magê Flores, Daniel Castro, Isabella Menon, Catarina Pignato, Carolina Moraes para a Folha de S. Paulo; Brigada Militar: assédio e suicídio entre policiais militares no RS, de Leno Falk para a Agência Radioweb, e Fincar o Pé, podução realizada por Tailane Muniz, Branca Vianna, Paula Scarpin, Flora Thomson-Deveaux, Guilherme Alpendre, Marcela Casaca, Juliana Jaeger, Vitor Hugo Brandalise, Évelin Argenta, Bia Guimarães, Sarah Azoubel, Bárbara Rubira, Natália Silva, Julia Matos, Luiza Silvestrini, Bia Ribeiro, Gilberto Porcidonio, Mateus Coutinho, Pipoca Sound para a Rádio Novelo.
Segundo Mariana, as três produções se destacaram pela excelente técnica, rigor na apuração e relevância do conteúdo. “O debate trazido pelo Caso das 10 Mil é urgente. O direito reprodutivo das mulheres está cada vez mais cerceado e utilizado como objeto de disputa e barganha política, principalmente pela extrema direita. Brigada Militar: assédio e suicÍdio entre Policiais Militares no Rio Grande do Sul, revela problemas invisibializados de uma estrutura falida com a retirada de direitos trabalhistas, assedios e preconceitos.”
“Já Fincar o Pé traz a arriscada cobertura jornalistica de Tailane Muniz sobre o caso de Pedro Henrique, um jovem negro e ativista pelos direitos humanos, perseguido e assasinado em 2018 por policiais militares na cidade bahiana de Tucano. Após 5 anos do assassinato de Pedro, a Justiça, aquela que o jovem sempre buscou em vida, não foi feita e os acusados continuam soltos e exercendo a profissão”, alegou Mariana, que votou na peça Fincar o Pé e foi seguida pela mariora.
Amazon Underworld
Na categoria Multimídia, concorreram as seguintes peças: Gigante pela própria imundíce, produção de Isadora Teixeira, Lilian Tahan, Priscilla Borges, Otto Valle, Olívia Meireles, Juliana El Afioni, Gui Prímola, Yanka Romão, Daniel Ferreira, Michael Melo, Igo Estrela, Gabriel Foster, André Esteves para o veículo Metrópoles; Amazon Underworld, de Bram Ebus, Alex Rufino, Andrés Cardona, Jaap van ‘t Kruis, Barbara Fraser, Juan Torres, Beatriz Jucá, Jeanneth Valdivieso, Laura Kurtzberg, Luiz Fernando Toledo, Mathias Felipe, Diane Sampaio, Emily Costa, Ivan Brehaut, Pamela Huerta, Sam Cowie, Leandro Barbosa, Silvana Vincenti, Tatiana Escárraga, Mariana Rios, María Ramirez, Wagner Almeida, Jorge Benezra para o InfoAmazonia, e Darién, a selva da morte, realizado por Mayara Paixão, Lalo de Almeida, Gustavo Queirolo, Juliano Machado, Rubens Fernando Alencar para a Folha de S. Paulo.
A relatora da categoria foi Tatiana Farah, gerente de comunicação da Abraji, que votou na produção Amazon Underworld, vencedora por 13 dos 14 votos. Sobre os trabalhos, Tatiana declara: “O que une essas três belíssimas reportagens? O tempo, equipe, dedicação, investimento, apuração, histórias fantásticas […] e um elemento essencial para qualquer jornalista, que é a empatia.”
“É difícil escolher a melhor história, porque elas são maravilhosas e traçam um mapa das mazelas atuais do Brasil: a Amazônia ameaçada pelo crime local e transnacional; a educação e a saúde contaminadas pela podridão da falta de saneamento e o drama migratório que arrasta brasileiros, sul-americanos e pessoas de todas as partes do mundo que usam o país para chegar aos Estados Unidos”, compartilhou.
Triste Bahia
A categoria Texto teve como relator Vitor Blotta, da Escola de Comunicação e Artes da USP, e contou com os materiais: Maria Júlia tem medo de ser queimada viva pelos “homens maus”, de Catarina Barbosa para a Sumaúma; Triste Bahia – Como age a polícia que mais mata, de Marcelo Canellas para a revista piauí e “Posso ser eu?”, De Talita Catie, Augusto Ittner, Patrick Rodrigues, Lucas Amorelli, Ciliane Pereira para o Jornal de Santa Catarina/NSC Comunicação. A peça vencedora foi “Triste Bahia.”
“Estamos diante de uma escolha muito difícil. As três matérias têm grandes qualidades”, disse o relator, defendendo a votação na reportagem “Posso ser eu”, destacando a importância de colocar em pauta o tema da pessoa trans, sobretudo em um estado conservador. Ele destacou o cuidado e o respeito com que o assunto foi tratado. A Abraji se declarou impedida de votar nessa categoria, uma vez que uma das candidatas é diretora da organização.
Torre das Donzelas
O relator da categoria especial Livro-reportagem foi Ricardo Ramos, presidente da União Brasileira de Escritores, e as peças foram: Pandemias: os reflexos da maior emergência sanitária do planeta em 15 reportagens especiais, de Jaqueline Fraga | Editora Negra Sou; Geisel em Londres: a visita de Estado em 1976 e a questão dos direitos humanos, de Geraldo Cantarino | Mauad X; A Torre: O cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura, de Luiza Villaméa | Companhia das Letras, e Milicianos – Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele, de Rafael Soares | Objetiva. O vencedor foi o livro “A Torre: O cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura”.
“É um resgate de grande importância do encarceramento brutal de mulheres torturadas de um período vergonhoso de nossa história”, complementou Ricardo, destacando a escolha de A Torre.
Inocentes na prisão
Já na categoria Vídeo, Iluska Coutinho, representante da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), foi a relatora. As três peças finalistas foram: Inocentes na prisão, produzido por Ana Passos, Gabriel Penchel, Adaroan Barros, Caio Araújo, Carlos Junior, Alex Sakata, Caroline Ramos, Eric Gusmão para a TV Brasil/EBC; Invisíveis, de Eduardo Noguera Torres, Nathalia Butti, João Rocha, Ivan Fromer para a TV Globo/Fantástico, e Os caminhos da Democracia 1932 – 1977 – A história do movimento estudantil no Brasil, material produzido por Simão Scholz, Gabriel Priolli, Jorge Valente, Ricardo Ferreira, Leão Serva, Leandro Silva, Luiz Turati, Jerônimo Moraes, Vanessa Lorenzini, Marco Galo, Euclides Conceição, Alexandre Tato, Jorio Jose Da Silva, Valdecy Messias De Souza, Celso Macedo, Nestor Dias, Marília Assef, José Vidal Pola Galé, Marici Capitelli, Eugênio Araújo, Silviano Floriano Filho para a TV Cultura SP. “Inocentes na prisão” foi a vencedora da categoria.
Sobre Inocentes na prisão, Iluska argumenta: “Coloca em cena situações em que os direitos humanos são violados não pela ausência, mas pela ação do Estado. A reportagem narra três histórias de falhas na investigação e alerta para os riscos de reconhecimento facial a partir de imagens, sendo os erros desse tipo de reconhecimento, de pessoas tornarem-se suspeitas por sua aparência, uma das principais causas de prisão de inocentes em processos criminais. Conforme narra a reportagem, mais de 80% das vitimas deste tipo de erro são homens negros.”
Menções honrosas
Além dos vencedores de cada categoria, este ano os organizadores que participaram do júri decidiram por destacar uma menção honrosa para cada categoria. São elas:
- Arte: Genocídio em Gaza
- Vídeo: Os caminhos da Democracia 1932 – 1977 – A história do movimento estudantil no Brasil
- Áudio: Brigada Militar: assédio e suicídio entre policiais militares no RS
- Fotografia: Cachoeira de Sangue
- Multimídia: Gigante pela própria imundice
- Texto: Maria Júlia tem medo de ser queimada viva pelos “homens maus”
- Livro: Milicianos – Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele
Cerimônia de premiação
A cerimônia de premiação será no dia 29 de outubro, terça-feira, às 20h, no Tucarena, em São Paulo. A já tradicional Roda de Conversa com os Ganhadores, com a coordenadora do Programa Tim Lopes, Angelina Nunes, antecederá a solenidade, das 14h às 17h.
Comissão organizadora:
O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Artigo 19; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Geledés; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Instituto Vladimir Herzog, Instituto Socioambiental (ISA); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Coletivo Periferia em Movimento; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), União Brasileira de Escritores (UBE) e Família Herzog.