por Igor Giannasi
Com passagens pelo cinema e pela tevê, ator elege o teatro para si e reestreia ‘Engravidei, Pari Cavalos e Aprendi a Voar sem Asas’ no Centro Cultural da Juventude
Sidney Santiago Kuanza recusa estereótipos étnicos. Ele se vê como um investigador das questões raciais que, por acaso, é ator, desde a Escola de Arte Dramática, na USP. “Se consegui legitimidade para dizer o que sou e desejo do mundo, isso ocorreu porque tive uma passagem pelo Movimento Negro, por entender que o País precisa ser justo”, afirma ele, fundador, em 2005, da companhia Os Crespos.
Nascido entre pescadores da Praia do Perequê, no Guarujá, o ator de 29 anos cresceu rodeado pela cultura afro. A mãe era baiana e o pai, de origem turca. O sobrenome Kuanza adotou em 2010 para simbolizar o resgate das origens africanas, após atuar em Angola com arte-educação.
Trabalhos no teatro, com os diretores Cibele Forjaz e Celso Frateschi, levaram-no à tevê e ao cinema. Na estreia cinematográfica, em 2006, como Herácles em Os 12 Trabalhos, dirigido por Ricardo Elias, dividiu o prêmio de melhor ator com Selton Mello (O Cheiro do Ralo) no Festival do Rio.
Na Globo, fez as séries Carandiru – Outras Histórias e Queridos Amigos, além da novela Caminho das Índias. “Pude contar uma história, estudar, labutar a técnica, vivenciar desafios como ator. Isso raramente os atores negros têm.” Ele não julga a escolha alheia. “Mas não passei seis anos numa universidade para servir café e dizer ‘sim, senhor’, ‘não, senhor’. Isso é contribuir para um imaginário do século 19 que não pode permanecer.”
Ainda que considere o cinema uma “oração”, escolheu o teatro. Seu grupo tratou do amor à luz das questões sociais e raciais a partir de Além do Ponto (2011), que iniciou a trilogia do projeto Dos Desmanches aos Sonhos: Poéticas em Legítima Defesa, idealizado por ele para falar sobre a afetividade na população negra.
Para montar Engravidei, Pari Cavalos e Aprendi a Voar sem Asas, segunda parte da trilogia, Os Crespos ouviu 55 mulheres de variadas histórias. “A experiência do racismo era comum a todas elas”, conta Sidney, codiretor do espetáculo, que 27 e 28 de julho retorna ao cartaz no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo.
“Embora os meios de comunicação não tenham assimilado o componente negro, hoje, no Brasil, podemos dizer que temos uma arte negra, brasileira, feita com muito rigor, muita técnica. Uma arte elaborada, não uma arte naïf”.
Fonte: Carta Capital