SPFW vai ter que incentivar uso de modelos negros

30 dias após evento, SPFW deverá enviar lista dos que desfilaram; grifes que não seguirem a recomendação vão poder se justificar

A São Paulo Fashion Week vai ter de estimular as grifes que participam do evento a utilizar pelo menos 10% de negros, afrodescendentes ou indígenas em seus desfiles.

Segundo um acordo firmado ontem com o Ministério Público, a direção da SPFW deve informar às grifes sobre a decisão pelo menos 15 dias antes dos desfiles. São considerados afrodescendentes aqueles com ascendência por consanguinidade, até segundo grau.

“O termo de ajustamento de conduta (TAC) é um instrumento importante de inclusão social, na medida em que cria a oportunidade para se ampliar a participação desses modelos em um dos cinco maiores eventos de moda do mundo”, explica a promotora Deborah Kelly Affonso, do Grupo de Atuação Especial de Inclusão Social (Gaeis), da Promotoria.

Ficou estabelecido que a SPFW deve encaminhar à Promotoria, até 30 dias após cada desfile, durante dois anos, a comprovação do cumprimento do acordo e a relação de todos os modelos que participaram, com o detalhamento dos que se inserem no critério. Caso não cumpra alguma das cláusulas do termo, a SPFW pode pagar R$ 250 mil de multa.

De acordo com a promotora, a grife que não seguir a recomendação -por causa da temática do desfile, por exemplo- poderá apresentar uma justificativa, que será analisada.

“Não é difícil cumprir essa cota”, diz o presidente da Associação Brasileira de Estilistas, Amir Slama. Para ele, a maior importância da medida é política. “Se você for ver, já se utilizam 10% de modelos negros na Fashion Week. Um desfile tem, em média, 20 modelos. Na maioria dos casos, eles escalam até mais de dois negros.”
O diretor do evento, Paulo Borges, não fez nenhum comentário sobre o acordo.

O inquérito da Promotoria teve como ponto de partida reportagens publicadas pela Folha em janeiro de 2008. Naquela temporada, apenas 8 dos 344 modelos que desfilaram eram negros -só 2,3% do total.

“Para nós, é um grande dia. Não queremos cota, mas inclusão”, diz frei David Santos, da Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Educafro, que promoveu no dia 12 de maio um desfile com modelos negros.
Em 2007, a empresa Luminosidade Marketing & Produções Ltda., organizadora da SPFW, já havia assinado um TAC com a Promotoria da Saúde Pública e da Juventude se comprometendo a cumprir uma série de exigências, inclusive em relação à idade mínima das modelos (16). Isso passou a figurar em uma espécie de “manual das grifes” da SPFW.

A estilista carioca Isabela Capeto diz que sempre usou modelos loiras, negras, ruivas e morenas para apresentar suas coleções. “Meu meu receio é que agora as negras sintam que estão ali porque foram impostas. E que, no final das contas, a história das cotas acabe gerando mais preconceito.”

 

 

 

 

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