A subjetividade da capoeira

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O projeto capoeira para os bairros e na escola, com a parceria do Grupo Zoeira Nago e a Prefeitura Municipal de Matinhos completam quatro anos de atuação. E como eu uma aluna graduada na corda cinza de iniciação de capoeira e etnógrafa de interesse descrevo essa experiência.

Por Francielle Costacurta para o Portal Geledés 

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A capoeira na escola voltada para a comunidade, é um recurso pedagógico para a transferir conhecimento sobre a pratica da capoeira, enquanto a cultura da arte como dança e a musicalização; difunde o esporte enquanto elemento de coordenação motora e interação com o espaço e a socialização com a historia da capoeira que cruza com a historia politico econômica do Brasil (com todas as opressões e enfrentamentos da população preta); as regras que respeitam a hierarquia de mestres, o espaço auditivo das canções da ladainha e do corrido.

É nesse espaço contínuo que se graduam crianças e adultos de qualquer idade. De longe parece atividades simples, mas é nesse interim semanal que os alunos e alunas da capoeira, fortalecem não só apenas o seu físico e a sua flexibilidade. A saúde emocional também é exercitada. Cabe a todo o capoeirista, obter a parcimônia no uso de seus impulsos, fora da roda da capoeira. Para isso há a roda de conversa e atividades envolvidas.

Nos conflitos de convívio entre as crianças “resolve se na roda”. Essa ação se assemelha a produção literária do psicodrama. Em que no teatro, na história ocorre uma encenação de começo, conflito, revide, nocaute e fim. No sentido que a história acabou, por isso no fim da luta se cumprimenta o adversário. Como se os neurotransmissores cerebrais que estivessem conectados pela raiva se desconectassem. É uma medida simples, mas é uma educação que faz com que as magoas não sejam guardadas. Ao contrario sejam “tocadas”, no sentido empírico, tocadas no atabaque, no pandeiro e no ago go.

Quando se canta na aula de coro, se lembra de historias de dores, afetos e costumes, de um Brasil tradicional e folclórico. E quando se retumba em coro e toques, ocorre o trabalho da concentração em modo alfa ( animado) e beta ( tranquilizador). As danças e os figurinos dizem muito de todas as festividades da nossa população do campo, das aguas e das periferias (frevo, puxada de rede e ciranda por exemplo) em que a população negra muito habitou.

Na roda de capoeira ou da aula da musica há um detalhe importante, os recém chegados são bem recepcionados pelas pessoas que estão mais tempo, como uma mandala. Ocorre uma integração em que todos chegam uma hora ao centro da roda.

Levando em consideração de que todos podem acrescentar em alguma coisa, não importa a corda da hierarquia que usem. Como nos tempos da senzala, como nos dias de hoje organizados em associações. A população preta se fortalece e se ajuda . Podendo ser assim na roda de capoeira, na roda de samba ou na roda da gira. Só quem perde é quem não sabe onde estão as suas raízes culturais.

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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