Suspeito de agredir músico negro com cassetete em Curitiba é preso, diz polícia

Agressão foi registrada por câmeras de segurança e aconteceu em 22 de novembro de 2022; suspeito irá responder por tentativa de homicídio e racismo, de acordo com a Polícia Civil. Defesa nega.

FONTEPor Ana Vaz, do G1
Câmeras registraram momento em que músico é agredido com golpes de cassetete em Curitiba (Foto: Reprodução)

A Polícia Civil informou que Paulo Cezar, suspeito de agredir o músico Odivaldo Carlos da Silva com cassetete, foi preso nesta quarta-feira (30), em Curitiba, após prestar depoimento. A prisão é preventiva, e ele vai responder por tentativa de homicídio e racismo.

A agressão aconteceu em 22 de novembro deste ano e foi registrada por câmeras de segurança.

No vídeo, o músico de 55 anos aparece andando sozinho na calçada quando Paulo Cezar se aproxima junto com um cachorro e aborda Neno. Em seguida, o homem usa o cassetete para acertar o rosto, a nuca e as pernas do músico. O suspeito também incentiva o cão a atacar a vítima.

A advogada Daniely Mulinari, representa o suspeito, e nega a acusação.

“A defesa se prepara para tentar demostrar que não houve em nenhum momento essa questão de racismo, de injuria racial, nada relacionando a isso, também se prepara para mostrar que se ele quisesse cometer um homicídio ele teve a oportunidade para tanto, porém não era a intenção, ele mesmo relata diversas vezes isso. ”

Enquanto o suspeito prestava depoimento, integrantes dos movimentos negro e de Direitos Humanos ficaram na frente da delegacia.

Integrantes dos movimentos Negro e de Direitos Humanos ficaram na frente da delegacia enquanto suspeito prestava depoimento (Foto: Ana Vaz/ RPC Curitiba)

A advogada de Odivaldo, Rita de Cássia Lins e Silva falou que o caso será tratado com com respeito.

“Será tratado dessa forma com respeito a todas as qualificadoras e agravantes existentes, como por exemplo, a injuria racial dentre outras, isso é importante ser dito porque esse caso que é extremamente emblemático deve orientar uma posição muito firme por parte da sociedade no sentido da luta antirracista.”

Músico relata agressão e racismo

Segundo a Policia Civil, o músico foi ouvido pelo delegado responsável pelo caso nesta segunda-feira (28), e o depoimento durou cerca de uma hora e meia.

Ainda segundo a Polícia Civil, o caso foi atendido inicialmente pela Polícia Militar (PM), que registrou a situação como lesão corporal. Porém, segundo Neno, durante as agressões o suspeito o chamou de “macaco” e de “negro sujo”.

De acordo com o músico, o suspeito também disse que “morador de rua tem que apanhar”.

Nesta quarta-feira (30), Paulo Cesar Bezerra da Silva prestou depoimento por cerca de uma hora, depois foi algemado e encaminhado a central de triagem onde deve permanecer preso por tempo indeterminado. Ele vai responder por tentativa de homicídio e racismo.

A polícia afirmou que também cumpriu um outro mandado de prisão contra ele que estava em aberto por uma outra agressão em 2019.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Danilo Zarlenga, o suspeito disse em depoimento que estava embriagado e disse também que era pago por funcionários de lojas para afastar o que ele teria chamado de arruaceiros.

“Ele reitera aqui que ele recebia de alguns comerciantes para que ele pudesse espantar alguns arruaceiros, questionado o que ele fazia ele disse que usava uma tonfa e usava o cão dele demostrando dessa maneira pra gente, conforme todos viram nas imagens, a selvageria e a crueldade com que ele agia.”

O delegado ainda completou.

“As testemunhas disseram também e a vítima também disse que ele gritava naquele momento “esse tipo de gente tem que morrer, preto tem que morrer, morador de rua tem que morrer”, então isso demonstra que ele estava incitando uma discriminação, um preconceito em relação a raça, etnia, cor em relação àquela vitima específica.”

Segundo a esposa da vítima, Lucimar Almeida, após Neno sair do hospital, o casal pegou o Boletim de Ocorrência registrado pela equipe policial. Porém, no documento não havia informações sobre as denúncias de ofensas e xingamentos de cunho racistas proferidos pelo suspeito.

Segundo Lucimar, depois de insistir com os policiais, foi registrado um segundo Boletim de Ocorrência acrescentando a questão.

Após as agressões, Paulo Cezar foi identificado, encaminhado ao cartório do 12º Batalhão da Polícia Militar e liberado.

Músico e agredido no rosto e mordido por cachorro

Neno precisou levar cinco pontos no rosto e fraturou três lugares no maxilar por conta das agressões (Foto: Reprodução/RPC)

Neno conta que, após o início das agressões, tentou fugir do suspeito, mas que Paulo Cezar incentivou o cachorro a persegui-lo e a mordê-lo. Ainda segundo o músico, a violência só parou quando pessoas e motoristas que passavam pelo local começaram a gritar.

Neno mostra que ficou com mordidas nos braços (Foto: Reprodução/RPC)

O músico afirmou que sofreu ferimentos no rosto, levou cinco pontos, fraturou o maxilar, quebrou um dente, está com marcas de mordidas de cachorro nos braços e nas costas, e terá que fazer uma cirurgia.

Por conta das agressões, o músico ficou sem trabalho: os machucados nas mãos não permitem que ele toque, e o machucado no rosto impede que ele cante.

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