Taís Araújo: ‘No nosso país, o preconceito está presente no momento em que saímos de casa’

Desde que estourou como sucesso nacional em Xica da Silva (Manchete, 1996), Taís Araújo, 35 anos, é sempre lembrada como a primeira negra protagonista de uma novela. O título já a desagradou no passado, mas hoje ela vê isso de outra maneira. “Antes eu negava, dizia não ter responsabilidade por ser a primeira negra, não queria esse peso. Mas o tempo passa e hoje, para mim, é uma honra”, diz. Em entrevista exclusiva na pequena vila de Mougins, no Sul da França, Taís conta que percebe o preconceito no dia a dia. “Acontece até hoje. Quando eu chego a um restaurante no Brasil, as pessoas que são iguais a mim só estão limpando e servindo. É o Brasil me dizendo que meu lugar é servir e limpar, quase falando que não tenho o direito de estar ali comendo. Ser Taís Araújo ameniza, mas não isenta. No nosso país, o preconceito está presente no momento em que saímos de casa”, desabafa.

Na semana passada, durante o programa Na Moral (Globo), apresentado por Pedro Bial, 56, que debateu o preconceito racial no país, Taís voltou a falar do assunto. E destacou os avanços: “Caminhamos muito nesse sentido. Acho que o Brasil começou a gostar de si, começou a querer se ver”, ao relembrar o sucesso da novela Da Cor do Pecado (2004). Nos bastidores, falou do filho, João Vicente, 3, fruto de seu casamento com o ator Lázaro Ramos, 35. “Meu filho vai encontrar um mundo melhor do que eu encontrei, mas ainda passará por muitas dificuldades.”

Sem mimos

A realidade brasileira é um dos motivos de preocupação da atriz na criação de João Vicente. Taís revela que não cria o menino cheio de mimos. E, semanalmente, repete os gestos de sua mãe, Mercedes Araújo, 59, e visita, com o filho, um orfanato no Rio de Janeiro. “A gente junta os brinquedos para ele mesmo doar para as crianças. Minha mãe fazia isso com a gente. Às vezes chegamos e as crianças estão dormindo. Ele quer acordar todo mundo para brincar. João fala: ‘Os amigos estão mimindo?’”, conta ela, imitando o jeitinho do filho. A ideia de Taís e Lázaro é que o garoto não cresça distante da realidade do país. “Eu e Lázaro viemos de uma família muito humilde e preciso passar isso para João. Tirando meu núcleo familiar, forte economicamente, primos e tios já não são. Não posso criá-lo como um principezinho. A vida não é assim”, ressalta.

Relação bem-cuidada

Com Lázaro, Taís construiu uma família e uma história de amor, que faz questão de lembrar todos os dias. Onde quer que vá, ela carrega no dedo anular esquerdo um trio de anéis, que representa momentos especiais de sua vida. “A aliança dourada é a do casamento. A do meio, de quando Lázaro pediu minha mão e a terceira, o solitário, ganhei dele quando João Vicente nasceu”, explica a atriz. “Só as tiro na hora de gravar”, completa ela, que atualmente trabalha ao lado do marido na novela Geração Brasil (Globo).

Juntos há dez anos, casados há nove, eles fazem planos para aumentar a família em breve. “Eu quero engravidar de novo. Logo que tive o primeiro filho, eu já dizia que queria outro, mas era uma loucura minha. João era pequeno e a gente ainda estava aprendendo a ser pais. Acho importante dar um irmão para João, assim como eu tive”, explica a atriz. A decisão por um novo bebê veio quando Taís percebeu que filho dá trabalho, sim, “mas não quebra. Então, tudo bem se pegar uma chupeta no chão e colocar na boca”, explica, aos risos.

Com o marido, Taís forma um dos casais mais consistentes da TV brasileira. A atriz admite que não é fácil manter a paixão, mais ainda quando os dois estão trabalhando na mesma novela. “Pedi para que Lázaro aceitasse o convite, porque queria tirar férias com ele”, diz. “O único problema disso é o excesso de tempo juntos”, brinca. E explica que depois de tantos anos é importante manter certa privacidade. “Você fica sabendo demais da pessoa. E acho que ele também não tem de saber tanto de mim. Coisas do tipo: a hora que chega em casa, quando grava… Eu nem olho o roteiro dele. É preciso ter privacidade. São dez anos juntos. Pelo amor de Deus, tem de ter um mistério!”, ensina.

A fórmula para um casamento bem-sucedido vai além, com viagens românticas sempre que a agenda de ambos permite. “É fundamental para o casal manter o clima de namoro depois de ter um filho”, explica. “Precisamos fazer duas viagens sempre: uma só nossa e a outra com João. Ou então só falamos sobre ele. De certa maneira, João Vicente é o prêmio de nossa relação.”

A última viagem da família foi no início do ano, quando passaram três meses em Nova York. O que parece um sonho para muita gente virou um pesadelo para Taís. “Eu não aguentava mais aquela vida de madame: estudar meio período e fazer pilates. No último mês, não foi nada fácil. Já estava pensando em conseguir um emprego de vendedora em uma loja. Eu trabalho desde muito cedo e estava me sentindo inútil”, conta a atriz.

tais-araujo-71285
Foto: Sergio Zalis

Essa foi a segunda vez que Taís morou na cidade americana. Na primeira, tinha 18 anos. “Com filho, é tudo diferente, é uma cidade frenética”, conclui. Na recente temporada, o casal alugou um apartamento perto da Columbus Circle, no coração de Manhattan, bem próximo ao Central Park, em uma tentativa de proteger João do movimento da metrópole. “Ele escutava o barulho das sirenes e ficava assustadíssimo. No Rio, eu moro no alto da montanha, quase um sítio”, explica. Mas conta que o menino voltou ensaiando as primeiras palavras em inglês. “No primeiro dia, Lázaro o levou para brincar no playground do prédio e ele já subiu falando ‘Mamãe, bye-bye é tchau’. Criança é uma esponja.”

Do período nos Estados Unidos, Taís voltou com uma certeza: quer voltar a estudar. “Há três anos venho planejando e vou cursar faculdade de teatro. Meus amigos atores dizem que eu sou louca, mas quero um diploma do meu ofício. Sei que é uma caretice, mas adoro o meio acadêmico, o ambiente me fascina. Sei que vou demorar uns dez anos para completar”, conclui Taís, que é formada em jornalismo.

Porta-voz da L’Oréal Paris, chama atenção pela beleza e boa forma. “Não faço nada. Minha dieta é simples: não como doce nem fritura, porque não gosto mesmo. Emagreci porque parei de malhar, dei uma murchada”, diz. “Depois que tive filho, meu corpo ganhou uma outra forma, mais feminina. Quando fiz Helena (Viver a Vida, 2009), eu era muito magricela e só tinha cabeça e cabelo. Eu não sou modelo, tenho cintura fina, corpo de brasileira, que acho lindo”, completa ela.

tais-araujo-71284
Foto: Sergio Zalis

 

+ sobre o tema

Hilton Cobra retorna aos palcos com o espetáculo

"Traga-me a cabeça de Lima Barreto!" Os atores Lázaro Ramos,...

Dan Ferreira comemora o início de sua carreira musical

Dan Ferreira lança o single “Saturno” nesta quinta-feira, 02...

João Cândido: Ex-marinheiro morreu pobre aos 89 anos

Em 22 de novembro de 1910, inconformados com os...

Movimento negro perde Oraida Abreu

Faleceu na tarde desta terça-feira (14/01) em Goiânia, vítima...

para lembrar

Líderes africanos querem Organização Mundial do Meio Ambiente

    À margem da 17ª Cimeira da União Africana, que...

Sul-africanos resignados a um iminente adeus a Mandela

No dia em que aumentou significativamente o contingente de...

Abdias Nascimento, o Leão Africano!

Nos ensina o Griot Abdias Nascimento: "Poucos brasileiros sabem...

Maranhense Maria de Lourdes Siqueira lança livro na Feira do Livro

A professora Doutora e escritora Maria de Lourdes Siqueira...
spot_imgspot_img

Documentos históricos de Luiz Gama são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco

Documentos históricos de Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas do Brasil, foram reconhecidos "Patrimônio da Humanidade" pela Unesco-América Latina. Luiz foi poeta, jornalista e advogado...

Diva Guimarães, professora que comoveu a Flip ao falar de racismo, morre aos 85 anos em Curitiba

A professora aposentada Diva Guimarães, que emocionou milhares de brasileiros ao discursar sobre preconceito durante a 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de...

Tia Ciata, a líder antirracista que salvou o samba carioca

No fim da tarde do dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks recusou-se a levantar da cadeira no ônibus, para um branco sentar...
-+=