Temer, entre o silêncio dos EUA e o embate com a esquerda da região

KEVIN DIETSCH/EFE

Impeachment de Dilma Rousseff gera críticas e silêncio entre países do continente

José Serra, novo chanceler e com intenções eleitorais, dá guinada drástica de tom

Por SILVIA AYUSO,  CARLOS E. CUÉ, RAQUEL SECO, do El Pais

Ninguém esperava que um Governo interino fruto de um impeachment, cuja fase final ainda está por vir, fosse recebido calorosamente, mas em poucas horas Michel Temer(PMDB) teve dimensão do desafio diplomático que o espera no continente americano. Apenas a Argentina, o mais importante sócio do Cone Sul, expressou o seu “respeito”para com o substituto de Dilma Rousseff (PT), ainda que a Chancelaria argentina tenha falado abertamente sobre o desconforto com os questionamentos à “legitimidade” do processo. Os Governos da Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e El Salvador, à esquerda e aliados de primeira hora da gestão alijada do Planalto, deram a resposta esperada: qualificaram a situação brasileira de um golpe de Estado, reproduzindo o discurso reiterado por Rousseff desde o começo do processo de destituição. Aos olhos jogo diplomático, porém, a reação mais importante até agora foi o silêncio de EUA, Colômbia, Chile e Uruguai.

O Ministério das Relações Exteriores de Temer assumiu como missão rebater a todas as críticas e já deixou claro que a guinada de rumos do novo Governo também abarca a política externa. O novo chanceler, José Serra (PSDB), havia alertado que “elevaria o tom” se necessário e já estreou rebatendo duramente a coalizão esquerdista que não reconhece a gestão interina. À Unasul (União das Nações Sul-Americanas), ele reprovou seus “argumentos equivocados” e os “juízos de valor infundados e preconceitos” de seu secretário-geral. A pasta também acusou os Governos da Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua e El Salvador de propagarem “falsidades”, destacando que o processo é legítimo e está sendo encaminhado com “absoluto respeito às instituições democráticas e à Constituição”.

Os termos de Serra foram fortes e pouco usuais para o histórico do Itamaraty, mesmo antes da era do PT. Para analistas, se por um lado é preciso atuar para impor o Governo interino na região, por outro, refletem o desejo de protagonismo de Serra, um ex-candidato presidencial da oposição que não esconde suas pretensões de voltar a concorrer. Seria impossível qualquer acomodação diplomática com aliados carnais de Rousseff de retórica exaltada, mas o panorama é ainda mais agudo porque esses países já foram criticados pelo líder da oposição – Serra certa vez culpou a Bolívia pelo narcotráfico em território brasileiro. Ainda assim, a dureza da resposta do Itamaraty a El Salvador, por exemplo, em que se menciona até a ajuda recebida pelo país caribenho em cooperação internacional, é mais um elemento para escalar os ânimos a apenas meses de o Brasil receber o evento mais importante da história da América do Sul, as Olimpíadas do Rio.

Obama, observador à distância

O Governo de Barack Obama optou pelo distanciamento em relação a Temer. Partindo do princípio de que se trata de uma questão interna, argumento que sempre utiliza quando não quer se posicionar, Washington se limitou, na semana passada, a reiterar sua “confiança” na “capacidade da democracia brasileira” de superar esses momentos “turbulentos”. Até o momento, nem a Casa Branca nem o Departamento de Estado deram nenhum telefonema para falar com o Governo interino.

 

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