Tia Jemina (a Mammy) – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte V

Mommy, é o modo carinhoso de se chamar uma mãe em inglês.
Mammy é como um negro do século XIX pronunciaria a palavra “Mommy” nos estados sulistas americanos.

por Suzane Jardim no Medium Corporation

tia jemina
Logo, Mammy vem das memórias e diários escritos por brancos no pós guerra civil, onde contavam como foram felizes ao lado da escrava de casa que era “quase da família”, aquela que os amamentou, que deixava os próprios filhos de lado pra cuidar deles, que não tinha vaidade, nem vontades — dedicava a vida inteira a todas essas crianças brancas maravilhosas que ela amava como se fossem os próprios filhos — ó que bonito!

A descrição básica da Mammy gira em torno de uma mulher negra bem gorda, com seios enormes capazes de amamentar todas as crianças brancas do mundo, um lenço pra esconder o cabelo crespo “horroroso” e uma personalidade forte, cheia de garra, mas que só serve pra lutar pela família branca que ela tanto ama.
Ela é uma doméstica, nasceu pra isso. Cozinha como ninguém e tem as melhores receitas. É leal, é gentil, dá dicas de limpeza, é supersticiosa, religiosa, tá sempre pronta pra aconselhar as donas de casa e suas filhas — uma grande amiga!

Claro que por se dedicar tanto à família branca, a Mammy é alguém sem pretensões, sem vida própria, assexuada e que só sabe servir e mais nada, mas o importante é usar a imagem pra enfatizar uma suposta boa relação entre senhores e escravos que tenta mascarar uma relação de poder gritante rolando.

Essa imagem foi firmada no cotidiano e na cultura popular principalmente depois do lançamento dos produtos culinários da Tia (Aunt) Jemima, láááá em 1889. Os produtos, a partir de 1893, ganharam um logo que trazia uma mulher negra com todas as características já citadas aqui e a figura da Aunt Jemima se tornou referência popular rapidamente, fixando uma nova personagem na publicidade, TV e cinema. Vários musicais, séries de TV e filmes tiveram sua versão da Tia Jemima.

A fixação da imagem da mulher negra como Mammy foi também usada no discurso ideológico que manteve as mulheres negras presas ao trabalho doméstico. Eram mulheres com vocação para servir e não para alcançar melhores postos e pretensões nos mercados de trabalho. Além disso, por anos definiu o lugar da mulher negra na mídia: só aparecia na função de doméstica e conselheira da patroa, não sendo representada como nada além de uma eterna Mammy.

Hattie McDaniel, a primeira mulher negra a ganhar um Oscar por seu papel no filme …Gone With the Wind ou … E o Vento Levou em português, fez a maior parte da sua carreira interpretando Mammies no cinema — só na década de 30, McDaniel interpretou pelo menos 40 empregadas domésticas. Vale lembrar que, o ano em que Hattie McDaniel levou o Oscar de Melhor Atriz (1940), foi também o ano em que uma pessoa negra esteve pela primeira vez em um cerimônia do Oscar sem ser para fazer faxina ou servir cafézinho…

Muitas garotas propaganda nos EUA, resgatam a figura da Mammy de um modo mais disfarçado, tipo tirando o lenço da cabeça ou coisa assim — mas obviamente só para produtos de cozinha ou de limpeza, como rolou com a garota do Pinho Sol até um tempo atrás.

O equivalente masculino da Mammy/Tia Jemima é representado em produtos e na mídia como Tio Ben ou o Tio Remus (falaremos mais sobre o Tio Remus na parte do Magical Negro).

leia também: 

Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte I

O Jim Crow – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte II

Sambo (Coon) – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte III 

Golliwog, pickaninny e golly doll – Reconhecendo estereótipos racistas internacionais – Parte IV

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