Tradução da escritora brasileira Conceição Evaristo é premiada na França

A tradução francesa do livro “Olhos d’Água”, da escritora Conceição Evaristo, publicado pela Editions des Femmes, foi homenageada com o Prêmio de Obra Poética da Academia Claudine de Tencin. A tradutora Izabella Borges fala sobre o desafio do projeto.

FONTERFI, por Silvano Mendes
A escritora Conceição Evaristo (Imagem: Joyce Fonseca/Divulgação)

“A escrita da Conceição Evaristo trabalha com diferentes registros de língua. Não foi fácil, não somente pelo vocabulário, mas também por essa troca de registros que ela pratica, muito rapidamente, principalmente em contos, que são condensados e com situações rápidas, que entram imediatamente em conflito com a leitura”, resume Izabella. “O mais difícil para mim na tradução da Conceição foi e é ainda a rapidez com a qual ela constrói o cenário e os personagens sobre os quais ela vai falar. E eu tive que passar isso para o francês de maneira rápida, sem perder o sentido e, ao mesmo tempo, guardando a carga poética da obra dela”.

Izabella, que é carioca, pratica um exercício delicado, já que ao contrário da maioria dos tradutores, que levam a versão do texto original para sua língua materna, nesse projeto ela traduz do português para o francês. Uma particularidade que pode ter contribuído na interpretação da “escrevivência” de Evaristo, termo usado pela escritora para definir sua maneira de se basear em trajetórias pessoais para falar de uma realidade coletiva.

“A Conceição trabalha textos fortes, muitos deles violentos, sem nunca ser piegas. Não há um sentimentalismo exacerbado. Essa foi a grande preocupação: respeitar o texto, trazer para o francês a realidade do que ela escreve, o sentimento, a poesia. Mas, ao mesmo tempo, não cair no sentimentalismo inútil”.

Izabella, aliás, está começando a se acostumar com esse exercício, não apenas com os textos de Evaristo. Ela assina a versão francesa de “A Mulher que Matou os Peixes”, de Clarice Lispector, que será lançada em dezembro, também pela Editions des Femmes. “Traduzir Clarice Lispector, que me foi lido, que eu li para minha filha e que ela possa eventualmente ler para os filhos dela, agora em francês, quando ela terá filhos, foi uma enorme honra, mas também um desafio”, confessa a tradutora.

Veja a entrevista completa:

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