Transexual sofre agressão após usar banheiro feminino em bar, em Araraquara; veja relatos em vídeo

Hanna se identifica com o gênero feminino há muito tempo, e mudou seu visual há um ano (Amanda Rocha/Tribuna Araraquara)

Amigo pediu esclarecimento e levou três socos; polícia se negou a fazer boletim de transfobia

Do Araraquara

A comerciante, fotógrafa e estudante transexual Hanna Neri, de 24 anos, sofreu agressões físicas e verbais após entrar em um banheiro feminino no bar Pirata’s, no Centro, na madrugada deste domingo.

Veja o VÍDEO

“Estávamos em quatro, minha amiga me chamou para retocar o batom no banheiro e eu fui. Quando estava lá dentro, uma moça entrou e pediu pra eu sair. Do lado de fora, um segurança disse que eu não podia entrar lá, tinha que usar o masculino”, relata Hanna. Abalada com o constangimento, ela ficou sem reação e começou a chorar.

O estudante e amigo Henrique Marcatto, 21, viu a situação e perguntou o porquê de Hanna não poder usar o banheiro. O segurança respondeu que ela “é homem, é viado”. “Expliquei que ela é transexual, mas ele me agrediu com três socos, um tapa na cara e depois me imobilizou pelo pescoço”, conta. Assustada, Hanna tentou intervir, mas levou um empurrão e seu nariz começou a sangrar.

Depois de outros funcionários apaziguarem a situação, Hanna e Henrique pagaram a conta e chamaram a polícia. Os policiais orientaram que ela fosse à delegacia de plantão. “Na delegacia, disseram que eu devia mesmo ter usado o banheiro masculino e que não conheciam a lei que me dá o direito de usar o feminino. Depois de muito insistir, registraram só como agressão”, explica.

Hanna diz que se sente envergonhada por a história ter se tornado pública, mas ao mesmo tempo feliz de poder lutar pelos direitos dos transexuais. “Relatei o que aconteceu no Facebook e nunca imaginei que ia ter tanta repercusão. Muitas pessoas estão apoiando e vou continuar lutando pelas pessoas que são ‘invisíveis’ para a população”, finaliza.

Não é exceção
O gestor de políticas públicas para diversidade sexual Paulo Tetti diz que o caso da Hanna não é exceção, já que muitos casos parecidos ocorrem diariamente, principalmente no que diz respeito ao uso do banheiro e do nome social. “Temos várias denúncias em relação ao Pirata’s, tanto de transfobia quando homofobia, não dá para ficar quieto, senão vai continuar acontecendo”, afirma.

Hanna e Henrique vão processar o bar e tomar todas as medidas legais necessárias. “Fiz uma capacitação com os policiais há dois meses falando sobre a lei do nome social, do banheiro e da abordagem em casos assim, mas foi feito tudo errado. Eles deveriam ter passado por exame de corpo delito e o boletim deveria constar que foi transfobia”, explica.

Pirata’s publica nota no Facebook e recebe críticas
O proprietário do Pirata’s Bar foi procurado pela reportagem, mas não atendeu o celular ontem, durante toda a tarde de ontem. Na página do Facebook, foi publicada uma nota de esclarecimento dizendo que foi aberta uma sindicância interna para investigar o caso.

“A surpresa foi, sobretudo, porque sempre foi característica do nosso estabelecimento não tolerar qualquer preconceito, seja ele de raça, religião, gênero ou orientação sexual. Prova é que a diversidade sempre foi a principal característica de nossa clientela e tudo fazemos para melhor servir o público que nos honra com sua preferência”, diz uma parte da nota.

A administração do bar diz que “a segurança é orientada a intervir apenas em casos de pessoas mais exaltadas, que possam trazer danos a outros clientes e essa ação é feita considerando apenas o fato, independente de quem seja a pessoa ou sua orientação sexual, raça, cor, credo, etc”. O comunicado foi recebido com críticas no Facebook.

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