Três mulheres se unem para derrotar presidente de Belarus, no poder há 26 anos

FONTERFI, por Daniel Vallot, enviado especial a Misnk
Veronika Tsepkalo (e), Svetlana Tikhanouskaya e Maria Kolesnikova (d) se uniram para tentar derrotar Alexander Lukashenko REUTERS - VASILY FEDOSENKO

As três mulheres representam candidatos que foram colocados na cadeia ou tiveram que se exilar. Maria Kolesnikova é porta-voz de Victor Babariko, detido durante a campanha. Junto com Svetlana Tikhanovskaya, que teve o marido preso, e Veronika Tsepkalo, cujo marido teve que deixar o país, elas consolidaram a oposição.

“Eu me encontrei com Svetlana e Veronika, conversamos 15 minutos, e rapidamente entendemos que tínhamos o mesmo objetivo”, explicou à RFI Maria Kolesnikova. “E sabíamos que estávamos prontas para nos unir a alcançar esse objetivo”, continua.

A meta das três é derrotar Alexandre Lukashenko que, pela primeira vez, encontra adversárias de peso. “Eles não se deram conta que nós éramos perigosas. Agora que entenderem, querem nos parar. Mas nós continuamos contornando os obstáculos”, celebra Kolesnikova.

Em apenas algumas semanas, as três multiplicaram os comícios, reunindo até 60 mil pessoas. Uma mobilização inédita desde o fim da URSS. “Damos esperança para essas pessoas pela primeira vez em26 anos. Eles nunca mais vão renunciar a ideia de ter um futuro e uma nova Belarus!”, diz Kolesnikova.

O pivô do trio é Svetlana, uma professora de inglês de 37 anos. Novata na política, ela se apresenta como uma “mulher comum, uma mãe e uma esposa”. Ela substitui o marido, Serguei Tikhanovski, um blogueiro impedido de disputar a eleição presidencial após sua detenção em maio, quando começava a ganhar popularidade.

Chamada ironicamente de “pobre garota” pelo presidente, ela pediu aos compatriotas que superem o medo da repressão, em um país que nunca teve uma oposição unida e estruturada. Foi dessa maneira que as três decidiram juntar suas forças.

Especialistas afirmam que Lukashenko não antecipou o poder dessa oposição, pois não acreditava que três mulheres pudessem abalar sua campanha. Mas ao subestimar o trio, o chefe de Estado deixou o caminho livre para uma mobilização popular rara nessa ex-república soviética, espremida entre a União Europeia (UE) e a Rússia.

Contestação reprimida

Diante da oposição inesperada, Lukashenko tenta apresentar o país sob sua batuta como uma pequena ilha de estabilidade e prometeu combater o “incêndio no coração de Minsk” que, segundo ele, seus rivais desejam provocar. Mas o chefe de Estado não parece aberto às críticas e ameaçou reprimir qualquer tipo de contestação de seu poder.

A oposição já se prepara para possíveis fraudes durante o pleito e pede que os eleitores fotografem seus votos, para que uma apuração paralela possa ser realizada posteriormente. A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que observa as eleições em seus Estados membros, não estará presente, o que não acontecia desde 2001, por não ter sido convidada a tempo.

Presidente minimizou a pandemia de Covid-19

Vários fatores pesam a favor dessa nova oposição. O país enfrenta uma frágil situação econômica, que piorou nos últimos tempos com a queda do petróleo.

Além disso, Lukashenko é criticado por sua gestão da pandemia de Covid-19. O chefe de Estado minimizou a vírus e chegou a sugerir que seus compatriotas poderiam se proteger bebendo vodca ou trabalhando no campo. Sua postura provocou a indignação da população, que teve que se mobilizar sem o apoio do governo para combater a crise sanitária.

-+=
Sair da versão mobile