Se os líderes europeus são os primeiros a subir ao palanque para denunciar o desmatamento nos países tropicais, criar barreiras comerciais e dar lição sobre como o planeta deve ser tratado, as negociações sobre compromissos na área de biodiversidade na Conferência da ONU revelam um mal-estar profundo da sociedade civil e governos diante da postura da UE.
A COP16, que ocorre em Cali, vem sendo marcada por uma profunda frustração por parte de ativistas diante das migalhas oferecidas pelos países ricos para ajudar no esforço de preservação.
Se somada, as promessas levadas para a Cali não passam de 163 milhões de dólares. Com os 244 milhões já comprometidos nos últimos meses, o valor chega a US$ 407 milhões. Mas se trata de uma gota d’água diante da previsão de que haveria um fluxo de US$ 25 bilhões por ano para essa preservação.
O valor destinado por alguns dos países mais ricos do mundo enfureceu negociadores.
A Áustria está contribuindo com 3,0 milhões de euros A Dinamarca está contribuindo com 100,0 milhões de coroas dinamarquesas (aproximadamente US$ 14,5 milhões) em 2024.
A França está anunciando sua contribuição de 5,0 milhões de euros (aproximadamente US$ 5,4 milhões). A Alemanha contribuirá com um adicional de 50,0 milhões de euros (equivalente a aproximadamente 54,1 milhões de dólares) em 2024, complementando sua contribuição anterior de 40,0 milhões de euros em 2023.
A Noruega contribuirá com 150 milhões de coroas norueguesas (equivalente a aproximadamente 13,7 milhões de dólares), sujeito à aprovação do Parlamento.
O Reino Unido está contribuindo com £45 milhões (equivalente a aproximadamente 58,4 milhões de dólares).
Essa não foi a única decepção. Para a surpresa dos negociadores, a UE passou a criar um problema para a inclusão de um parágrafo sobre a questão de afrodescendentes, um trecho negociado por Brasil e Colômbia.
Para a entidade Geledés – Instituto da Mulher Negra, “mais uma vez a população afrodescendente está sendo rifada como moeda de troca em negociações internacionais na COP16, a Conferência sobre Biodiversidade, em Calí, na Colômbia”.
“O documento para reconhecimento, participação plena e efetiva dos povos afrodescendentes que estava avançando nas negociações foi sequestrado pela União Europeia”, denunciaram.
“Geledés – Instituto da Mulher Negra, como outras organizações afrodescendentes, defendem o devido reconhecimento dos povos afrodescendentes como atores históricos na conservação e uso sustentável dos biomas que residem. E em mais um capítulo colonizador da União Européia eles estão barrando a possibilidade de garantia de direitos e reconhecimento dessa população historicamente inviabilizada”, disseram.
Barbara Reynolds, presidente do Grupo de Trabalho de Especialistas em Afrodescendentes da ONU, afirmou que o grupo de trabalho de especialistas e afrodescendentes da ONU apoia a inclusão dos afrodescendentes nas negociações em curso na COP16. Ela reforça que é “fundamental garantir que o documento reconheça populações afrodescendentes no contexto da preservação da biodiversidade, alinhando-se com posições adotadas recentemente em outros fóruns multilaterais, como o Conselho de Direitos Humanos, onde recentemente a aprovou uma resolução que destaca o papel da população afrodescendente na preservação da biodiversidade”.
Para ela, é “essencial que a COP16 se alinhe com esses outros órgãos que defendem as populações afrodescendentes”.