“Entrei na banheira e fiquei parada, olhando para ele. Não parecia que Papa ia pegar um galho, e senti o medo, ardente e inflamado, encher minha bexiga e meus ouvidos.

Não sabia o que ele ia fazer comigo. Era mais fácil quando eu via o galho, porque podia esfregar as palmas das mãos e retesar os músculos das panturrilhas para me preparar. Mas Papa jamais me pedira para ficar de pé dentro da banheira. Então percebi a chaleira no chão, ao lado dos pés de Papa, a chaleira verde que Sisi usava para ferver água para o chá e para o garri, aquela que apitava quando a água começava a ferver. Papa apanhou-a.

hib

— Você sabia que seu avô ia para Nsukka, não sabia?

— Sim, Papa.

— Você pegou o telefone e me contou isso, gbo?

Não.

— Você sabia que ia dormir na mesma casa que um pagão, não sabia?

— Sim, Papa.

— Então você viu o pecado claramente e mesmo assim caminhou na direção dele?

Assenti.”

CARINA CARVALHOPaulistana, é formada em Letras e com elas trabalha. Mestranda em Estudos Literários na Unifesp. Em 2013 publicou o livro de poemas “Marambaia” (Editora Patuá). Inventa mil coisas a fazer mais ou menos a cada estação, daí varia entre realizá-las ou deixá-las pra logo mais. Escrever é a única constante, e muitas vezes acontece em clcarina.wordpress.com.