Uma conversa com Lupita Nyong’o, eleita a mulher mais bonita do mundo

A maior revelação da indústria cinematográfica nos últimos anos é Lupita Nyong’o, atriz criada no Quênia, com pós graduação na Yale School of Drama, que surpreendeu o público com sua performance em “12 Anos de Escravidão”. Seu papel como Patsey, a escrava que resiste a atos indizíveis de brutalidade, não só lhe rendeu o Oscar como um BAFTA de coadjuvante.

Lupita agora foi eleita a mulher mais bonita do mundo pela revista People em sua edição especial, que sai todo ano. É a primeira negra a ostentar esse título. Já tinha sido escolhida o rosto da marca de cosméticos Lancôme. “Ao vir para os EUA, foi a primeira vez em que tive de me considerar negra e aprender o que significava a minha raça”, afirma.

As pessoas são naturalmente atraídas por seu espírito livre e sua beleza impressionante. Sua naturalidade é uma lufada de ar fresco em um mundo repleto de celebridades intragáveis. Nyong’o venceu outras mil concorrentes que fizeram testes para interpretar Patsey. Sua súbita ascensão à fama está além de qualquer coisa que ousou imaginar.

“No Globo de Ouro, eu pude conhecer Leonardo DiCaprio e tirar uma foto com ele. Parecia que estava assistindo a premiação pela TV e de repente todas aquelas pessoas estavam na minha sala de estar”, diz ela. “Meus amigos no Quênia me dizem que sou mais famosa que meu pai [Anyang Nyong’o, senador queniano], embora eu não tenha certeza de que ele goste disso”.

Lupita trabalhou também no thriller de avião “Non-Stop”, em que contracenou com Liam Neeson e Julianne Moore. Percorreu todo o circuito de talk shows americanos, onde seu charmoso sotaque britânico-americano-queniano apenas amplificava sua inteligência afiada e o comportamento espirituoso.

Nascida no México, onde seu pai lecionava na época, Lupita foi para o Quênia em criança, onde permaneceu até os 16 anos. Ela então voltou para o México porque seus pais queriam que aprendesse espanhol. Em seguida, mudou-se para os EUA, onde se formou em estudos africanos e cinema no Hampshire College, antes de ser admitida na prestigiosa escola de teatro de Yale, que conta com ex-alunos como Meryl Streep, Paul Newman, Sigourney Weaver e Elizabeth Banks.

Nyong’o tinha se graduado há apenas três semanas quando soube que fora escolhida pelo diretor Steve McQueen para viver Patsey. Dez anos atrás, trabalhou como assistente de produção de Ralph Fiennes enquanto ele filmava “O Jardineiro Fiel” não muito longe de sua casa, em Nairobi.

Quando ele lhe perguntou sobre suas ambições na vida, ela respondeu: “Eu quero ser uma atriz”. Ele, então, hesitou por um momento, suspirou, e advertiu-a: “Lupita, só atue se você não puder respirar sem isso”. Ela nunca teve qualquer dúvida.

Alguns trechos de nossa conversa:

Sobre reconhecimento

Estou muito orgulhosa e aliviada com o fato de “12 Anos de Escravidão” ter alcançado reconhecimento. Senti uma grande responsabilidade de fazer justiça a Patsey e à história desta mulher. Não foi fácil filmar. Eu sou da África, mas sofri sob o calor da Louisiana. Nós estávamos no auge do verão e você pode imaginar o que era para mim e para Chiwetel Eijofor [que fez o protagonista Salomon Northup] colher algodão no campo.

Mas nós não podemos reclamar porque sabíamos que essa era a realidade dos escravos que tinham estado lá antes de nós. Isso me fez pensar que estes homens e mulheres eram extremamente fortes e resistentes.

[Lágrimas nos olhos] Eu sou uma chorona. Eu acho que nunca amei tanto um personagem. É muito emocionante e eu amo falar sobre isso, mas o assunto sempre traz lágrimas aos meus olhos. Oh, Deus. Eu sou um bebê chorão.

Sobre o desejo de se tornar atriz

Foi quando eu crescia no Quênia. Eu me lembro que era muito pequena quando vi pela primeira vez “A Cor Púrpura”. Talvez eu tivesse 9 anos e foi interessante enxergar mulheres como eu na tela. Oprah e Whoopi Goldberg trabalharam neste filme.

Isso me deu a inspiração para pensar que talvez eu também pudesse fazer aquilo, apesar de saber da realidade do Quênia. Eu não acho que seria capaz de ter uma carreira se ficasse na África.

Sobre sensualidade

O roteiro de “12 Anos…” dizia que Patsey era sensual sem fazer esforço. Eu estava pensando nisso por algum tempo até que achei esta citação do livro de James Baldwin “The Fire Next Time”: “Ser sensual, eu acho, é alegrar-se com a força da vida, da própria vida, e estar presente em tudo o que se faz, desde o esforço de amar até o ato de repartir o pão.”

Sobre o orgulho familiar

A minha família está bastante surpresa com o meu sucesso. Acho que todo mundo estava preocupado se eu iria achar muito difícil a vida como atriz e voltar para Nairobi. Claro, agora é muito mais fácil explicar por que eu não vou voltar para casa no feriado.

Sobre o Autor

Alemão, naturalizado canadense, Harold tem 52 anos e é, além de jornalista, diretor de cinema. Em mais de 20 anos, entrevistou atores e cineastas para a mídia americana e europeia. Com todas teve grandes conversas. Exceto por Scarlett Johansson. “Ela é uma linda diva mimada”, diz.

 

 

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