Uma pessoa negra foi morta pela polícia a cada 4 horas em 2022, indica boletim

Boletim ‘Pele Alvo: a bala não erra o negro’, da Rede e de Observatórios, aponta que negros foram as vítimas de violência policial, indica relatório

FONTECNN, por Renato Pereira
Beco na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, onde operação policial deixou 25 mortos, amanheceu com projéteis de bala no chão Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

A cada quatro horas, uma pessoa negra foi morta pela polícia brasileira ao longo de 2022. É o que indica o relatório “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, divulgado pela Rede de Observatórios nesta quinta-feira (16).

De acordo com o boletim, que monitora a letalidade policial em oito estados, dos 3.171 registros de morte com informação de cor/raça declaradas, negros somam 87,35%, um total de 2.770 pessoas. Os dados foram obtidos junto a secretarias estaduais de segurança pública de Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI).

Como nos estudos anteriores, o novo monitoramento da Rede de Observatórios da Segurança demonstra o alto e crescente nível da letalidade policial contra pessoas negras. No ano passado, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro no número de casos registrados nos estados incluídos no estudo. Bahia e Rio foram responsáveis por 66,23% do total dos óbitos.

Bahia lidera tanto em número de pessoas negras mortas por agentes policiais, ao todo foram 1.465, quanto no percentual de pretos e pardos mortos considerando a população de outras cores/raças, 94,76% do total de óbitos.

Em segundo lugar, em número de mortos, vem o Rio de Janeiro, com 1.042 óbitos de pessoas negras, 86,98% do total.

O Pará registrou 631 vítimas negras (93,9%), enquanto, Pernambuco, Piauí e Ceará registraram 91 (89,66%), 39 (88,24%) e 152 (80,43%) óbitos de pessoas pretas ou pardas, respectivamente.

São Paulo registrou 419 mortes de pessoas pretas ou pardas, fazendo de pessoas negras 63,9% das vítimas de letalidade policial. O estado teve uma redução de 48,32% no número de mortes provocadas por agentes de segurança, desde 2019, quando foram 867 vítimas.

O Maranhão, também monitorado pela Rede de Observatórios, não indica cor ou raça nos óbitos ocasionados pela polícia. Mais de 80% da população maranhense se declara preta ou parda. No estado, 92 pessoas foram mortas por agentes policiais.

Este é o quarto ano consecutivo que negros são maioria entre o número de mortos pela polícia.

“Em quatro anos de estudo, um segundo fator nos causa grande perplexidade: mais uma vez, o número de negros mortos pela violência policial representar a imensa maioria e a constância desse número, ano a ano, ressalta a estrutura violenta e racista na atuação desses agentes de segurança nos estados, sem apontar qualquer perspectiva de real mudança de cenário”, diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios.

“É necessário tomar a letalidade de pessoas negras causada por policiais como uma questão política e social. As mortes em ação também trazem prejuízos às próprias corporações que as produzem. Precisamos alocar recursos que garantam uma política pública que efetivamente traga segurança para toda a população”, completa.

O objetivo da Rede de Observatórios é monitorar e difundir informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos. O grupo atua na produção de dados, com rigor metodológico, nos oito estados em parceria com instituições locais, acompanhando os indicadores de segurança junto aos parceiros.

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