Vacina e racismo: brancos são 2 vezes mais vacinados do que negros, diz Agência Pública

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O racismo é de tal forma estrutural no Brasil que pode ser medido em qualquer contexto ou prática social – incluindo a vacinaçãocontra a Covid-19: apesar da primeira pessoa vacinada no Brasil, Mônica Calazans, ser uma mulher negra, passados dois meses do início da vacinação no país atualmente o quadro se inverteu em dobro, e para cada pessoa negra que recebeu uma dose, duas pessoas brancas são vacinadas por aqui.

O dado é parte de um levantamento amplo sobre o tema, realizado pela Agência Pública e publicado no último dia 15 de março.

As informações se referem aos primeiros 8,5 milhões de pessoas que já receberam ao menos uma dose da vacina por aqui, e a gravidade da conclusão não se mede somente pelo fato da maioria da população brasileira ser negra: no trágico cenário da pandemia nacional, os negros são maioria absoluta entre os contágios registrados e também os números de casos fatais da doença. Assim, a população negra está mais exposta à Covid-19, morre mais por conta da doença, e no entanto é menos vacinada.

Mônica Calazans é a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Brasil (Foto: Getty Images)

E tal quadro se agrava ainda mais na proporção geral da população, visto que somente 4,5% da população brasileira havia sido vacinada até o dia da publicação do relatório.

Os números são alarmantes: em um país com 88,7 milhões de pessoas brancas e 119,2 milhões de pessoas negras segundo dados do IBGE levantados em 2019, cerca de 3,2 milhões de pessoas brancas receberam a vacina diante das cerca de 1,7 milhão de pessoas negras que já foram vacinadas.

Vacinação em um posto de saúde em São Paulo (Foto: ALEXANDRE SCHNEIDER /GETTY IMAGES)

Um dos elementos mais elementares e simbólicos que promove tal desigualdade racial é a diferença na expectativa de vida das populações brancas e negras para uma vacinação que deu preferência às populações idosas.

“A população negra que chega a mais de 90 anos é menor que a população branca [na mesma faixa etária] porque a expectativa de vida da população negra é menor, tanto pela morte da juventude negra, por causas externas, quanto por todos os outros acometimentos que o racismo impacta, como a forma que se acessa saúde”, afirmou a médica Rita Borret, coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Saúde da População Negra da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, para o relatório.

O racismo estrutural influenciando a vacinação

Um outro elemento que provocou tal desigualdade no processo de vacinação foi a determinação do que é ou não é um serviço essencial: trabalhadores terceirizados em hospitais, de setores como a limpeza e segurança, de maioria negra, não foram selecionados como preferenciais para receber a vacina.

Em suma, portanto, o cenário amplo apontado pelo relatório mostra em um sentido abrangente e efetivo o funcionamento do racismo estrutural no país, sob a lente de situação tão urgente quanto o da pandemia e da vacinação.

De acordo com o relatório, a Pública procurou o Ministério da Saúde, a fim de esclarecer se haveria algum programa ou política para corrigir ou reduzir tal desigualdade racial, mas não obteve qualquer resposta. Os números, dados e informações completas estão no relatório da Agência Pública, publicado aqui.

 

Fonte: Hypeness

 

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