Vale a pena ver de novo

Atriz, homenageada no CCBB, abriu e pavimentou caminho para toda uma geração de jovens talentos pretos e pardo na dramaturgia

FONTEFolha de São Paulo, por Ana Cristina Rosa
A jornalista Ana Cristina Rosa é Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública) - Foto: Keiny Andrade/Folhapress

Num tempo em que não havia espaço para pessoas negras no teatro, no cinema e na televisão, Léa Garcia foi pioneira ao destacar-se no universo das artes cênicas. Tornou-se uma das principais atrizes do Brasil.

Seu trabalho ajudou a dar visibilidade à questão racial. Ao jogar luz sobre a precariedade da situação do negro na sociedade brasileira, abriu e pavimentou caminho para toda uma geração de jovens talentos pretos e pardos que têm se destacado na dramaturgia nacional.

A atriz Léa Garcia no filme ‘Orfeu do Carnaval’ (1959), de Marcel Camus – Divulgação

Ao longo deste mês da Consciência Negra, essa atriz gigante está sendo homenageada com uma retrospectiva completa de seu trabalho no cinema por meio da mostra Léa Garcia – 90 anos, em exibição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília.

A carreira artística começou ainda na adolescência, quando Léa conheceu o Teatro Experimental do Negro (TEN) —movimento artístico, político e cultural. Aos 16 anos, ingressou na companhia criada e liderada pelo intelectual, escritor, poeta e teatrólogo preto Abdias do Nascimento.

A atriz Léa Garcia – Divulgação/TV Globo

Paralelamente aos palcos, encarnou inúmeras personagens marcantes no cinema e na TV. Quem está na casa dos 50 anos (ou já passou dela) deve lembrar da atuação de Léa Garcia como vilã no papel de Rosa, a escravizada invejosa que infernizava a vida da dócil e bondosa protagonista “Escrava Isaura”. No final da novela, de 1976, acabou morta pelo próprio veneno.

No cinema, concorreu à Palma de Ouro em 1957, ficando em segundo lugar no Festival de Cannes pela atuação como Serafina, em “Orfeu Negro”. Acumulou o Kikito de melhor atriz com o prêmio do júri popular no Festival de Cinema de Gramado (RS) por sua interpretação em “Filhas do Vento”, em 2004.

Pouco antes de falecer (em agosto de 2023, na Serra Gaúcha, onde estava para receber o Troféu Oscarito, honraria concedida às maiores atrizes e atores do país), afirmou em rede social: “Não sou ativista, sou uma mulher que tem consciência da problemática dentro da sociedade brasileira. Espero que tudo isso melhore. Que possamos alcançar um mundo mais justo e mais igualitário”.


Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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